quinta-feira, 22 de agosto de 2013

UMA PLATAFORMA PARA O LANÇAMENTO DE BONS FILMES NA SALA P. F. GASTAL

A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, em parceria com as produtoras Tokyo Filmes e Livre Associação, dá início no dia 27 de agosto próximo ao projeto Sessão Plataforma. Realizada mensalmente na Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar), a Sessão Plataforma irá exibir filmes de produção recente, de diferentes nacionalidades, com caráter predominantemente independente e sem distribuição comercial garantida no Brasil. Com curadoria de Davi Pretto e Giovani Borba, e produção de Paola Wink, a Sessão Plataforma já tem confirmada para os próximos meses a exibição de importantes filmes que circularam nos principais festivais do mundo todo e no Brasil passaram apenas pela Mostra de Cinema de São Paulo ou pelo Festival do Rio, como Room 237, de Rodney Ascher, Bestiaire, de Denis Cotê,  The Invader, de Nicolas Provost, e Leviathan, de Lucien Castaing-Taylor e Verena Paravel. A cada sessão, a Plataforma vai anunciar o filme seguinte da programação, em um trabalho que procura difundir um novo cinema e uma busca de realizadores com outros olhares, aproximando Porto Alegre do circuito de exibição do centro do país, do qual atualmente a capital gaúcha se vê ainda muito distante.

O filme escolhido para inaugurar a Sessão Plataforma é o cultuado documentário Room 237, de Rodney Aschner, que participou dos festivais de Cannes, Sundance e Berlim. O documentário de Aschner explora os labirintos das inúmeras teorias obsessivas sobre o clássico filme O Iluminado, de Stanley Kubrick. Um filme sobre a paixão por um filme, por um realizador e, acima de tudo, pelo cinema, um filme sobre a cinefilia como única saída para se livrar dos fantasmas de um filme sobre fantasmas. 
Room 237 será exibido dia 27 de agosto, às 20h, com reprise no sábado, dia 31 de agosto, às 17h. O valor do ingresso é de R$ 3,00.

Room 237. Estados Unidos, 2012, 102 minutos. Direção de Rodney Aschner. Documentário. Exibição em Blu-ray, com legendas em português.

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Abaixo, texto dos curadores Davi Pretto e Giovani Borba e da produtora Paola Wink sobre o projeto Sessão Plataforma:

BASE

Uma base para se estar mais próximo aos filmes, pensando os filmes e pensando o cinema. 

Foi com esse desejo que concebemos a Plataforma; imaginando uma estrutura horizontal, praticamente suspensa, onde se pode ir além. Um espaço para compartilhar a experiência cinematográfica da sala, e que vai além dela, e a descoberta de novos filmes, de novos realizadores. Lugar que nos aproxima do horizonte e nos convida a contemplar, nos convida a refletir.

A Plataforma carrega um conjunto de ideias e ações que venham a encontrar novos caminhos para a situação paradigmática que nos encontramos atualmente na cinematografia brasileira. Vemos uma quantidade grande, ainda que desigual, de ações e investimentos governamentais, aliado com a facilidade trazida pela transformação para os equipamentos digitais (câmeras, projetores, etc). Vemos uma quantidade bastante significativa, e que cresce exponencialmente, de filmes nacionais lançados, inúmeros novos realizadores de lugares que antes eram desprovidos da possibilidade de produzir. Vemos a formação e crescimento de movimentos e realizadores que buscam uma produção mais horizontal e igualitária de criação coletiva, que corre em paralelo e independente de um modelo industrial. Porém há ainda um abismo que distancia a possibilidade de diálogo e inclusão desses filmes e cineastas com produções de grande orçamento e o circuito comercial “de shopping”. Nessa inclusão, quando ocorre, essas obras são forçadas a se enquadrar em um modelo industrial, que se propuseram a contrapor. A democratização das salas de cinema não legitimaria esse novo cinema, afinal essas obras já percorrem um circuito completo por si só. Festivais, mostras, cineclubes e exibições online que já somam números de público para essas obras, maiores que filmes de grande orçamento que pairam apenas em uma rede convencional de exibição. É imprescindível pensarmos como esses dois modelos de fazer cinema podem interagir sem a necessidade de nenhum deles perder sua personalidade.

Essa questão da afirmação e preservação do âmago desse novo cinema também é indiretamente abalada quando ações do estado de financiamento fazem realizadores submeter seus projetos em modelos clássicos, onde são exigidos documentos dignos de uma proposta industrial. Roteiros, metas e justificativas. Projetos de realizadores internacionais renomados que trabalham com propostas fluídas e híbridas de encontro e acaso dificilmente seriam aprovados em editais no modelo encontrado no Brasil. Ainda parece que esbarramos em um pensamento de criação de um produto óbvio, como uma linha de montagem. Mais uma vez, vemos uma tentativa inadequada de controlar e definir o descontrole.

A diversidade cinematográfica atravessa as fronteiras entre gêneros, bitolas, formatos, meios de exibição, de linguagem e metragem. Desta mesma maneira, pensamos que uma janela para este outro cinema pode se apresentar de maneiras também diversas, onde o formato com que se apresentam os filmes é parte de uma proposta artística.

Foi deste pensar os filmes que queremos mostrar e como mostrá-los, que surge a Sessão Plataforma. Com o entendimento de que a Plataforma não está para uma mostra, tampouco festival de filmes. Nossa proposta é oferecer uma sessão única, e mesmo exibindo regularmente, essa premissa da sessão única faz de cada uma das sessões, uma nova edição, para um pequeno universo específico de cinema. Onde cada filme traz uma reflexão, imprime uma ideia, aponta novos caminhos, proporciona um outro olhar. Uma experiência cinematográfica periódica e extensiva; um formato horizontal, ao invés do formato vertical, intensivo e anual de eventos do gênero.

A Sessão Plataforma é apenas uma das vertentes desta rede maior que propomos para refletir, exibir, escrever e produzir junto com esse novo cinema. Desta Plataforma, nosso olhar se lança neste horizonte, em busca da produção contemporânea ao redor do mundo que explora nas possibilidades narrativas e estéticas, sem artifícios mirabolantes, que atritam, provocam e instigam; que possam reinventar o fazer cinematográfico, sob a ótica das mais diferentes culturas, de onde volta e meia nos surpreendem as cinematografias pouco conhecidas.

Davi Pretto, Giovani Borba, Paola Wink

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