Confira,
abaixo, algumas de suas considerações sobre Rivette postadas no Facebook
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Postado em 05/08/2013
Embora uma versão
reduzida da mostra produzida por Francis Vogner Dos
Reis e
cia, trata-se de uma oportunidade única de ver os filmes desse cineasta pouco
conhecido da Nouvelle Vague.
Lembro até hoje da experiência
marcante de descobri-lo através de uma sessão de Defesa Secreta na Casa
de Cultura Mario Quintana, junto ao Fabiano de Souza e ao Eduardo
Wannmacher, ali no início do século (naquele dia, pasmem, tínhamos
visto dois outros filmes). Por que raios ficávamos tão vidrados com aqueles
passeios intermináveis de trem que a Sandrine Bonnaire fazia?
Depois foi a vez de A Religiosa, também em
35mm, na Cinemateca Quebecoise - e ficar espantado com o trabalho de som
impressionante do filme, com a Anna Karina etc.
Seguiram outros espantos e outros prazeres: A
Bela Intrigante (que resolvi investigar um dia na academia), Paris nos
Pertence (que espanto esse filme de estreia), Amor Louco (o filme de
casal mais radical já feito?), Céline e Julie (o filme mais prazeiroso
de todos os tempos?), Duelle (o filme de fantasia mais livre que
existe?), Não Toque no Machado (o filme definitivo sobre o jogo e a
encenação da sedução versus regras sociais?).
Todos os filmes de Jacques Rivette são uma
experiência única de prazer, de imagem, de encenação, de presença de atores, de
câmera, de narrativa. Para quem gosta de cinema, de teatro, de histórias, de
gente, de vida.
Venham, amigos de Porto Alegre, habitar por uma
semana essa pequena casa de ficção que é o mundo criado por Rivette.
Já não somos inocentes. Assumamos isso e deleitemo-nos.
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Postado em 05/08/2013
Em um antigo blogue, cheguei a postar uma vez uma revisão
rápida dos fimes do Rivette.
Aproveito a
abertura da mostra HOJE, na Sala P. F. Gastal, para copiar alguns desses textinhos:
Paris nous
appartient (1960)
Onde tudo começou:
o teatro, as ruas de Paris, a conspiração. É evidentemente um ensaio que seria
melhor desenvolvido em filmes posteriores, mas creio que Rivette é
excessivamente rigoroso quando fala
desse filme. As imagens em P/B do trem (que viriam depois em cores em La bande
des quatre e Secret Défence) e dos telhados de Paris são inesquecíveis, assim
como a participação do próprio Rivette como um semi-paranóico numa festa.
La Religieuse (1966)
Outra aproximação com o teatro, dessa vez de dentro
para fora, e depois para dentro de novo. O filme é uma adaptação de uma peça
dirigida pelo próprio Rivette alguns anos antes e reflete (no sentido de fazer
uma reflexão sobre) essa influência: mais do que no filme anterior, o jogo de
atores em relação à câmera se inspira no teatro para contar a história da
garota que foi "emprisionada" no convento pela própria família. O
filme passa longe do denuncismo fácil e tem Anna Karina iluminada e um assustador
trabalho com o som.
L'Amour fou (1969)
Fãs mais empedermidos de Rivette irão me recriminar
por considerar visto um filme na versão reduzida (130 minutos ao invés dos
252), e com razão: ao contrário de outros casos, a versão reduzida desse filme
foi feita à revelia do diretor. O resultado é um filme que tropeça em sua
primeira meia hora, é confuso em algumas passagens, mas que mantém a força das
imagens e da loucura do casal (ele diretor de teatro, ela atriz) que se fecha
no apartamento até enlouquecer. Um filme único, um encontre de um diretor e
atores em estado de graça. No final, só fica a sensação: se a versão ruim é
essa, imagina a boa!!!
* vi a versão de 252 minutos alguns anos depois
deste post, o que deixa esse texto meio sem sentido, pois quase nada do que
escrevi sobre a primeira meia hora e sobre a confusão se aplica. Talvez o
melhor filme do Rivette.
Out 1 - Noli me tangere (1971)
Rivette aproveita uma encomenda para TV e leva ao
paroxismo as experimentações de L'Amour fou. Foi tão longe que o filme nunca
foi exibido na TV que o encomendou, e passou com quase 13 horas de duração,
dividido em 8 partes, numa sessão histórica em Havre. Dois anos depois, Rivette
faz uma versão de 4 horas e pouco, com o nome de Out 1 - Spectre, que os que
viram dizem tratar realmente de um outro filme. No final dos anos 80, Noli me
tangere é recuperado por alguns festivais e TVs, com alguns minutos e uma cena
a menos, e o século 21 permitiu algum maluco de partilhar uma exibição da RAI
nos emules da vida. O filme é uma experiência radical, possivelmente o mais
difícil de se colocar uma cotação aqui. As três primeiras partes são as mais
radicais: praticamente assistimos ao ensaio de dois grupos de teatro, e ao
esboço de dois personagens fora desses grupos. É a partir do quarto episódio
que uma tênue trama se instala, envolvendo um grupo que se inspira nos 13 de
Balzac para conspirar contra... contra o que, mesmo? Onde está Igor? Quem está
traindo quem? As trupes são elas também um grupo de conspiração? E o filme, pode
ser ele também uma forma de conspiração?
* somente a versão de 4 horas, Spectre, é que vai
passar na Mostra da PF Gastal.
Céline et Julie vont en bateau (1974)
Rivette dá prosseguimento às experiências com improvisação - tanto que o roteiro do filme é assinado por ele e Eduardo de Gregorio, mas também por Juliet Berto, Dominique Labourier, Bulle Ogier e Marie-France Pisier, todas atrizes no filme - dessa vez optando por um tom oposto ao de Out 1. Não que não haja dor e desespero no filme, mas a tônica dominante que é justamente a da brincadeira e do prazer - prazer do cinema, prazer da encenação, prazer do jogo. Os 20 minutos iniciais dão a pista: não procure a trama, pois ela vai te achar. Só nos resta embarcar no barco das duas recém-amigas e acompanhá-las na história de amor e morte a que elas assistem - e da qual depois elas participam. Alice no País das Maravilhas, Casa Mal-Assombrada, Les Vampires - nos anos 70, esses universos faziam mais sentido para Rivette do que a situação político-social da Paris pós-68.
Rivette dá prosseguimento às experiências com improvisação - tanto que o roteiro do filme é assinado por ele e Eduardo de Gregorio, mas também por Juliet Berto, Dominique Labourier, Bulle Ogier e Marie-France Pisier, todas atrizes no filme - dessa vez optando por um tom oposto ao de Out 1. Não que não haja dor e desespero no filme, mas a tônica dominante que é justamente a da brincadeira e do prazer - prazer do cinema, prazer da encenação, prazer do jogo. Os 20 minutos iniciais dão a pista: não procure a trama, pois ela vai te achar. Só nos resta embarcar no barco das duas recém-amigas e acompanhá-las na história de amor e morte a que elas assistem - e da qual depois elas participam. Alice no País das Maravilhas, Casa Mal-Assombrada, Les Vampires - nos anos 70, esses universos faziam mais sentido para Rivette do que a situação político-social da Paris pós-68.
Duelle (une quarantaine) (1976)
Outro capítulo das Scènes de la vie parallèle. Dessa vez é a história de duas deusas (do sol e da lua) que voltam a terra para duelarem. A forma com que Rivette mistura o mistério policial e o fantástico é exemplar na sua simplicidade, assim como todos os "efeitos especiais" (que estão mais para reinvenção do repertório do cinema fantástico antigo do que qualquer outra coisa). No primeiro encontro entre as duas deusas, um dos travellings mais bonitos de toda a carreira do cineasta. Embora ainda faça parte de sua fase mais experimental, os movimentos de câmera e o trabalho com os atores (os travellings praticamente dançam com eles) já anunciam o que ele iria sedimentar mais adiante.
Outro capítulo das Scènes de la vie parallèle. Dessa vez é a história de duas deusas (do sol e da lua) que voltam a terra para duelarem. A forma com que Rivette mistura o mistério policial e o fantástico é exemplar na sua simplicidade, assim como todos os "efeitos especiais" (que estão mais para reinvenção do repertório do cinema fantástico antigo do que qualquer outra coisa). No primeiro encontro entre as duas deusas, um dos travellings mais bonitos de toda a carreira do cineasta. Embora ainda faça parte de sua fase mais experimental, os movimentos de câmera e o trabalho com os atores (os travellings praticamente dançam com eles) já anunciam o que ele iria sedimentar mais adiante.
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