segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Evento Comemora 100 anos de Niemeyer e discute a herança do Modernismo

A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura, em parceria com a Escola de Design da Unisinos, realizou evento que ao longo de quatro semanas colocou em discussão um dos movimentos artísticos mais influentes do século XX. Sob o título geral de Modernismos: Presente, Passado e Futuro, o evento inclui debates, uma mostra de filmes e uma exposição do fotógrafo Leopoldo Plentz.
No dia 13 de agosto, quarta-feira, às 19 horas, Leopoldo Plentz inaugurou na Galeria Lunara uma exposição de fotos sobre Brasília. Plentz passou uma semana na Capital Federal, a convite da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia, registrando os melhores ângulos da cidade projetada pelos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. A origem da exposição foram anotações de Lúcio Costa nas quais o arquiteto indicava como fotografar a cidade.

Já no dia 14, sexta-feira, às 19 horas, aconteceu na Sala P. F. Gastal o debate “Modernismo: O Futuro do Passado” com a participação do arquiteto e ensaísta paulista Guilherme Wisnik e da italiana Marisa Galbiati, professora da Faculdade de Design de Milão. Antes do debate foi exibido o documentário O Risco – Lúcio Costa e a Utopia Moderna.
No dia 4 de outubro aconteceu o debate “Modenismo: O Presente do Passado”, com a participação da artista Lenora de Barros e da historiadora da arte Luiza Mello. Antes do debate, acontece a exibição do filme Geraldo de Barros - Sobras em Obras.
Já a mostra de filmes, que inclui dez longas-metragens e quatro documentários curtos, aconteceu na Sala P. F. Gastal entre os dias 11 e 27 de setembro

MOSTRA DE FILMES

Oscar Niemeyer – A Vida é um Sopro, de Fabiano Maciel (2007)
Documentário sobre o grande arquiteto brasileiro, recuperando os principais momentos de sua vida e de sua obra. Exibição em DVD.

Metrópolis, de Fritz Lang (1926)
A visionária obra-prima de Fritz Lang realizada na década de 20, famosa por seus gigantescos cenários, que anteciparam diversas questões da cidade modernista. Exibição em DVD.

O Gato Preto (The Black Cat), de Edgar G. Ulmer (1934) Clássico do cinema de horror, com Boris Karloff e Bela Lugosi no elenco, ambientado em uma mansão modernista. Exibição em DVD.

O Sonho Não Acabou, de Sérgio Rezende (1981) Inteiramente filmado em Brasília, é o retrato de uma geração de jovens que nasceu e cresceu na cidade planejada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Exibição em 35mm (apenas duas exibições).
Meu Tio (Mon Oncle), de Jacques Tati (1958)
Demolidora crítica do grande cômico francês Jacques Tati ao modernismo, a partir da visita de um personagem atrapalhado à casa super moderna de seus parentes ricos. Exibição em 35mm.

Daqui a Cem Anos (Things to Come), de William Cameron Menzies (1936)
Produção de ficção-científica realizada na Inglaterra nos anos 30, cujos cenários remetem à arquitetura modernista. Exibição em DVD.

Os Jetsons, de William Hanna e Joseph Barbera (1990)
A popular família do futuro criada pela dupla Hanna-Barbera vive suas aventuras em cenários inspirados na arquitetura modernista. Única exibição, no dia 14 de setembro, às 21 horas, no projeto Raros, com comentários do animador gaúcho Otto Guerra.

O Risco: Lúcio Costa e a Utopia Moderna, de Geraldo Motta Filho (2002)
Documentário sobre o arquiteto Lúcio Costa e sua contribuição ao modernismo no Brasil.

Geraldo de Barros – Sobras em Obras, de Michel Favre (1999)
Documentário sobre o artista concretista Geraldo Barros, um dos maiores expoentes da arte moderna brasileira.

Tempestade de Gelo (The Ice Storm), de Ang Lee (1997)
No início dos anos 70, casais de classe média alta entediam-se e vivem seus dramas conjugais em elegantes casas modernistas do subúrbio americano. Exibição em 35mm.

Bauhaus – Um Mito, de Julia Cave (1994) – 45 minutos
Documentário sobre a célebre escola de arquitetura e design alemã e sua influência na arte moderna. Acompanhado pelo curta Fotografia na Bauhaus (7 minutos).

Mies van der Rohe, de Georgia van der Rohe (1980) – 48 minutos
Documentário sobre a vida e a obra do grande arquiteto modernista alemão, dirigido por sua filha Geórgia, que o entrevistou um anos antes de sua morte, em 1969. Acompanhado pelo curta Walter Gropius (16 minutos).


EXPOSIÇÃO




BRASÍLIA
por LEOPOLDO PLENTZ







A convite da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia, partindo de anotações feitas por cio Costa sobre as melhores maneiras de fotografar Brasília, Leopoldo Plentz foi à Capital empreender uma jornada de registro visual da obra modernista de maior importância em nosso Pais, maior tamanho no mundo e enorme relevância estética, formal e conceitual na arquitetura do século XX. Centrado no Plano Piloto do Distrito Federal, o fotógrafo gastou seis dias e cinco noites como "flâneur motorizado" — a concepção urbanística de Brasília exige automóvel para deslocamento —, operando sua câmera de médio e grande formatos com foco voltado aos grafismos e formas sinuosas de Oscar Niemeyer, aos largos espaços vazios que ora remetem a paisagem sombria, contrastada e ameaçadora de Giorgio de Chirico, ora sintetizam a megalomania de JK e dos arquitetos que redesenhavam o futuro do Brasil na década de cinqüenta: 50 anos em 5, como pedia o projeto nacional-desenvolvimentista em curso no período.
Por trás de sua ostensiva beleza urbana, as imagens em P/B capturadas por Leopoldo endossam a utopia do Modernismo ao passo em que reforçam a carga política deste oásis burocrático e institucional que centraliza à distância o destino de nosso País há mais de meio século. A perfeição formal das imagens parece mascarar a dimensão humana e imperfeita que existe à sua revelia no interior da gigantesca "maquete".

Bernardo José de Souza
Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia
Secretaria Municipal da Cultura

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

João Moreira Salles na Sala P. F. Gastal

A Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar) segue na próxima semana com a programação da mostra O Discreto Charme da Burguesia, que terá como grande atração a presença do documentarista João Moreira Salles, na terça-feira, às 19h. Diretor de filmes como Nelson Freire, Entreatos e Santiago, Moreira Salles irá participar do debate “A Representação da Elite no Documentário Contemporâneo”. O debate acontece após a exibição de Grey Gardens, clássico do documentário americano dirigido pelos irmãos Albert e David Maysles, em 1975. A sessão é aberta ao público e tem entrada franca (distribuição de senhas a partir da 18h30). Antes disso, na sessão das 17h, de terça-feira, será exibido Santiago, que Salles realizou em 2007 sobre o mordomo de sua família.
Grey Gardens (EUA, 1975, 100 minutos), de Albert Maysles e David Maysles
Em 1973, a autoridades locais tentaram expulsar mãe e filha de uma mansão decadente no balneário de luxo de East Hampton, alegando falta de condições sanitárias. O fato teve ampla repercussão na mídia, já que ambas eram primas da ex-primeira dama dos Estados Unidos, Jackie Kennedy. Em 2009, a rede HBO lançou uma versão ficcional do documentário, estrelada por Drew Barrymore e Jessica Lange. Esta última recebeu o prêmio Emmy de melhor atriz dramática na última semana por sua interpretação no filme, já exibida no Brasil pelo canal a cabo HBO.

GRADE DE HORÁRIOS
Semana de 29 de setembro a 4 de outubro de 2009

MOSTRA
O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA

29 de setembro (terça-feira)
15:00 – Uma Mulher do Outro Mundo
17:00 – Santiago
19:00 – Grey Gardens, seguido de debate com o cineasta João Moreira Salles

30 de setembro (quarta-feira)
15:00 – As Corças
17:00 – Match Point
19:00 – O Grande Gatsby

1º de outubro (quinta-feira)
15:00 – O Criado
17:00 – Roleta Chinesa
19:00 – O Tempo Redescoberto

2 de outubro (sexta-feira)
15:00 – Casamento ou Luxo?
17:00 – Uma Mulher do Outro Mundo
19:00 – Retorno a Howards End

3 de outubro (sábado)
15:00 – Roleta Chinesa
17:00 – Match Point
19:00 – O Tempo Redescoberto

4 de outubro (domingo)
15:00 – O Deserto Vermelho
17:00 – A Doce Vida

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Do Lixo ao Luxo: Hibridismo e Reciclagem Cultural

A Sala P. F. Gastal comemorou dia 25 de maio de 2007 o seu 8º aniversário.
Para comemorar, o cinema da Usina do Gasômetro sediou uma programação especial, intitulada Do Lixo ao Luxo: Hibridismo e Reciclagem Cultural, que inclui debates, mostra de filmes e uma exposição da artista paulista Chiara Banfi, na Galeria Lunara.

Concebida pela Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura, esta programação pretende colocar em discussão um dos fenômenos mais recorrentes no mundo contemporâneo: .

A principal atração do evento foi a presença do diretor americano Jonathan Caouette, que veio a Porto Alegre especialmente para apresentar seu cultuado filme Tarnation, inédito no Brasil. Documentário autobiográfico sobre a relação do diretor com a mãe esquizofrênica, Tarnation foi feito inteiramente no PC de Caouette, ao custo de 218 dólares.
A traumática história de Caouette é recuperada através de filmes familiares em VHS e Super-8 e fotografias e curtas de ficção, além de novas imagens captadas com sua câmera digital. O filme “caseiro” de Caouette chegou às mãos dos diretores Gus Van Sant e John Cameron Mitchell, que ficaram impressionados com o resultado e imediatamente conseguiram, com a ajuda de David Lynch, levantar recursos para ampliar o filme e custear os direitos da trilha sonora.
Depois de uma aplaudida estréia mundial no Festival de Sundance, Tarnation teria uma recepção consagradora no Festival de Cannes.
Jonathan Caouette esteve na Sala P. F. Gastal no dia 23 de maio, às 19 horas, ao lado da jornalista Suzy Capó, curadora da mostra de filmes, e do cineasta gaúcho Gustavo Spolidoro, um dos entusiastas do filme.

Já no dia 24, também às 19 horas, aconteceu uma mesa de debate com a participação de José Gatti, doutor em cinema pela Universidade de Nova York, do jornalista, músico, cantor e autor teatral Fausto Fawcett e da jornalista Suzy Capó, que estarão discutindo as várias questões propostas pelo evento. A mostra de filmes, que se estenderá por quatro semanas, irá apresentar uma série de filmes que refletem sobre o tema proposto.

Do clássico Macunaíma, de Joaquim Pedro Andrade (apresentado em cópia restaurada), ao documentário Boca do Lixo, de Eduardo Coutinho, passando pelo curta Ilha das Flores, de Jorge Furtado, ou o recente Estamira, de Marcos Prado, além de uma série de curtas do diretor de vanguarda americano Stan Brakhage, o público terá a oportunidade de ver um recorte bastante significativo da produção cinematográfica contemporânea.

Abaixo, texto da jornalista Suzy Capó sobre o ciclo de filmes que concebeu para o evento Do Lixo ao Luxo: Hibridismo e Reciclagem Cultural.

A Redenção do Detrito
Colombina, onde vai você, eu vou dançar o iê-iê-iê. Assim falou Estamira, personagem-objeto-título do documentário de Marcos Prado que ocupa posição de destaque na mostra. Assim como muitos dos personagens e autores que povoam e conduzem as narrativas reveladas nesta mostra, Estamira está imbuída na tarefa diária de depurar o lixão da sociedade. Do topo do lixão da Ilha das Flores, brasileiros dão asas de urubu à imaginação percorrendo décadas, para frente e para trás, num vôo rasante ao mundo globalizado. Aproveitam-se da miséria social, da falta de ética, do atraso tecnológico, para cada um adiantar o seu lado. Revertem o jogo entre o dominado e o dominador, construindo uma estética de resistência em que a fraqueza estratégica é transformada em força tática. Assim, nosso herói popular sincrético Macunaíma, construído a partir de uma combinação bizarra de fábulas, arquétipos narrativos e elementos folclóricos, renova o projeto antropofágico de seu criador modernista Mário de Andrade quando é absorvido pelos postulados do movimento tropicalista, pelo mais autêntico precursor do cinema novo, Joaquim Pedro de Andrade. Como Tati Quebra-Barraco, ele mostra que os brasileiros são pós-modernos há séculos, pois habitam o território do pastiche e da bricolagem, onde convivem muitas épocas e estéticas. Mas a forma como os brasileiros aqui representados digerem, transformam e devolvem ao mundo suas tradições culturais e as influências externas não é tão central quanto o é a intertextualidade sugerida pela exibição em uma única mostra de obras com propostas estéticas tão distintas quanto os curtas-metragens de Stan Brakhage e o road-movie de Agnès Varda, com abordagens tão diversas quanto os documentários de Jonathan Caouette, Eduardo Coutinho e Evaldo Mocarzel, com sentimentos tão díspares quanto aqueles provocados pelo cinema de João Pedro Rodrigues e de Quentin Tarantino.

A redenção do detrito, tema aglutinador desta mostra, não deve ser lida como uma vontade de devorar o outro para construir uma identidade própria. Talvez seja uma metáfora da reciclagem contemporânea do excesso de informações transnacionais, da mescla seletiva multitemporal e desterritorializada das vozes do mundo. Das vozes que como Estamira têm a missão de revelar a verdade, somente a verdade.

MOSTRA DE FILMES


O Fantasma,
de João Pedro Rodrigues (Portugal, 2000, 90 minutos)
Elogiado filme de estréia do português João Pedro Rodrigues, sobre as andanças de um gari homossexual por uma Lisboa sombria e estranha.

Os Catadores e Eu,
de Agnès Varda (França, 2000, 82 minutos)
Ícone da Nouvelle Vague, Varda assina esta obra-prima tardia em formato de filme-ensaio. Um documentário a respeito das relações dos homens com o descartável, com o lixo e com o supérfluo, marcado por indagações políticas e filosóficas.

Os Catadores e Eu:
Dois Anos Depois, de Agnès Varda (França, 2002, 63 minutos).
Varda retoma seu filme de 2000, revisitando os mesmos temas e personagens.

Boca do Lixo,
de Eduardo Coutinho (Brasil, 1992, 50 minutos).
O duro cotidiano de um grupo de pessoas em um lixão, através do olhar do grande mestre do cinema documental brasileirio.


À Margem da Imagem,
de Evaldo Mocarzel (Brasil, 2003, 72 minutos)
Primeira parte da trilogia de Evaldo Mocarzel sobre os excluídos, aqui retratando os dramas dos moradores de rua.


Macunaíma,
de Joaquim Pedro de Andrade (Brasil, 1969, 108 minutos)
A clássica adaptação de Joaquim Pedro de Andrade para o romance de Mário de Andrade. O filme está sendo relançado em cópia nova, após longo trabalho de restauração.


Sou Feia, Mas Tô na Moda,
de Denise Garcia (Brasil, 2005, 61 minutos)
Um documentário revelador e bem humorado sobre o rico universo do funk carioca, enfocando algumas de suas figurais mais emblemáticas.


Estamira,
de Marcos Prado (Brasil, 2006, 115 minutos)
Premiado documentário sobre mulher com problemas mentais que habita um lixão. De lá, ela levanta sua voz contra os homens e, sobretudo, contra Deus.

O Signo do Caos, de Rogério Sganzerla (Brasil, 2002, 89 minutos)
Último filme de Rogério Sganzerla. Uma reflexão ao mesmo tempo amarga e irônica sobre o cinema num contexto de subdesenvolvimento, a partir da passagem do cineasta Orson Welles pelo Brasil.


O Lixo e a Fúria,
de Julian Temple (Inglaterra/EUA, 2000, 108 minutos).
Cultuado documentário sobre a cena punk em Londres e a ascensão do grupo Sex Pistols.


Ilha das Flores,
de Jorge Furtado (Brasil, 1989, 12 minutos)
A trajetória de um tomate, do supermercado a um lixão onde será disputado por seres humanos. O curta que consagrou Jorge Furtado e deu projeção internacional ao cinema gaúcho, após ser premiado no Festival de Berlim.


Tarnation, de Jonathan Caouette (EUA, 2004, 88 minutos)
Documentário autobiográfico sobre a relação do diretor com sua mãe esquizofrênica.


Curtas de Stan Brakhage
Quatro curtas realizados por um ícone do cinema experimental norte-americano.

EXPOSIÇÃO

A artista paulistana Chiara Banfi foi uma das atrações do evento Do Lixo ao Luxo: Hibridismo e Reciclagem Cultural,


O trabalho de Chiara parte da colagem de diversos materiais, para construir imagens orgânicas e abstratas, cheias de delicadeza, que aguçam os sentidos. Ela começou fazendo suas obras diretamente na parede, numa mistura de pintura e adesivos em vinil, depois partiu para colagens, ora com fotografias, ora experimentando outros materiais. Sentiu necessidade da tridimensionalização deste conceito, em que seu desenho acaba por criar volumes e caminhos inusitados, em instalações que já foram apresentadas no último Rumos Itaú Cultural (2005/2006), na Boston Arts Academy (2006), na DNA Galerie, em Berlim (2006), e na prestigiada Fundação Cartier, em Paris (2005).




A exposição de Chiara Banfi é mais um fruto da parceria estabelecida entre a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura e a Galeria Vermelho, de São Paulo. Anteriormente, a Vermelho já trouxe exposições de Cris Bierrenbach e Rafael Assef, sempre na Galeria Lunara.




Na exposição Mirante, Chiara se utiliza de recortes de imagens fotográficas para construir o que ela chama de “jardim interno”: formas orgânicas que recriam a natureza através da reapropriação de imagens de plantas.

Julian Rosefeldt na 3ª edição do Projeto Videoarte

Nesta terceira edição do projeto Videoarte nos Jardins do DMAE, a Secretaria Municipal da Cultura, através da sua Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia, trouxe a Porto Alegre duas obras recentes do artista alemão Julian Rosefeldt: Asylum e Lonely Planet. Ambos rodados em 16 mm, os filmes abordam de maneira distinta algumas questões centrais na discussão das dinâmicas do mundo globalizado: fluxos migratórios, a identidade e a alteridade no imaginário cosmopolita, culturas cêntricas versus culturas periféricas, entre outras.

Embora os matizes políticos e antropológicos sejam fundamentais à compreensão da obra de Rosefeldt, são as qualidades plásticas destes títulos que notabilizam a maestria com que o artista revela dramas contemporâneos em exercícios visuais do mais alto refinamento estético, da mais precisa construção formal e do mais elaborado apuro estilístico.

Em Asylum, Rosefeldt constrói em notas surrealistas e cores saturadas tableaux vivants dentro dos quais situa nove minorias étnicas na Europa, marginais ao processo de inclusão econômica e cultural no mundo desenvolvido: vietnamitas, turcos, albaneses, kosovares, afegãos, ciganos, romenos, chineses e tailandeses. Confinados a cenários estanques e bizarros, os figurantes de Rosefeldt desenvolvem rigorosas coreografias em câmera-lenta, de lógica própria, ritmo automático e propósito nulo, sem que estabeleçam qualquer diálogo com o mundo exterior, salvo pelo mantra de fechamento cantado em uníssono pelos peões dispostos no tabuleiro onírico do artista.

Lonely Planet é a narrativa de registro semi-fictício, semi-documental, sobre um andarilho/turista/performer – interpretado pelo próprio Rosefeldt – que circula por uma Índia dividida e estereotipada, vista através de seqüências que nos confrontam com a miséria das ruas e da margem do Ganjes, com a estética kitsch dos estúdios de Bollywood e com a assepsia dos interiores informatizados que alavancam as estatísticas do crescimento econômico daquele país.

Rosefeldt vem ganhando ampla atenção internacional através de exibições de grande sucesso na Kunsthalle de Basel (Basel), na Tate Gallery (Londres), na PS. 1 (NY), entre outras.

Ao lado das obras de Julian Rosefeldt serão exibidos outros dois filmes, Piknik e Treinamento, também rodados em 16 mm.




O primeiro, realizado pelos videomakers gaúchos Luiz Roque e Mariana Xavier, e produzido por Jaqueline Beltrame, apresenta um grupo de amigos que durante um piquenique é surpreendido por uma estranha fumaça branca que surge inexplicavelmente de um arbusto.



O segundo, Treinamento, consiste em um experimento em câmera-lenta no qual o próprio artista, Luiz Roque, se submete a uma série de absurdas provas físicas e ataques sem sentido.Ainda que estes dois trabalhos filmados nos Jardins do DMAE não permitam, a priori, uma leitura política, ambos apresentam uma atmosfera de risco e de vulnerabilidade física através de imagens alegóricas – de gases, bombas e explosões – que remetem, de forma lúdica ( e contraditória? ), é bem verdade, aos conflitos bélicos contemporâneos.Com a realização de Piknik, Roque dá continuidade à sua série de vídeos de fumaça: Estufa, exibido na Tate Gallery, em Londres, e Projeto Vermelho, atualmente sendo apresentado na 12° Biennial of Moving Images, em Genebra.

Os quatro filmes selecionados para a presente mostra foram projetados, em loop, por duas horas, sempre à noite, em uma tela tridimensional especialmente construída e instalada nos Jardins do DMAE.





DEBATE COM FÁBIO CYPRIANO (CRÍTICO DE ARTE DA FOLHA DE SP E PROF. DA PUC-SP) 10 DE NOVEMBRO ÀS 18 HORAS

Projeto Videoarte nos Jardins do DMAE traz Miranda July

A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura apresentou, nos jardins do DMAE, uma mostra com os vídeos da videoartista e cineasta americana Miranda July, inicianjdo em novembro de 2006.

Dona de uma obra não só altamente representativa dos dilemas contemporâneos como profundamente humana, tanto em sua forma quanto em seu conteúdo, July é uma artista conceituada em seus país e ganhou maior notoriedade internacional a partir de sua estréia no longa-metragem com Eu, Você e Todos Nós, sucesso do circuito alternativo, premiado nos festivais de Cannes e Sundance em 2005.

O trabalho da artista inclui filmes, performances, gravações e combinações entre essas coisas. Seus curtas vêm sendo exibidos internacionalmente em locais como o MOMA e o Museu Guggenheim de Nova York. Nest of Tens e a instalação sonora The Drifters foram apresentados na Bienal do Whitney em 2002. July participou da Whitney Biennial de 2004 Com learningtoloveyoumore.com, criado com o apoio da fundação Creative Capital e colaboração do artista Harrell Fletcher, esteve na Bienal do Whitney em 2004. As performances multimídia da artista (Love Diamond, The Swan Tool, How I Learned to Draw) têm sido apresentadas em lugares como o Institute of Contemporary Art, em Londres, e The Kitchen, em Nova York. Suas histórias podem ser lidas no The Paris Review e The Harvard Review e, suas perfomances para rádio, ouvidas regularmente no NPR´s The Next Big Thing.

A mostra que acontece nos jardins do DMAE inclui os vídeos Atlanta (1996, 10 minutos), The Amateurist (1998, 14 minutos), Nest of Tens (1999, 27 minutos), Getting Stronger Every Day (2001, 7 minutos) e Haysha Royko (2003, 4 minutos). Muito embora a coleção de títulos exibidos encontre inquestionável correspondência no jargão acadêmico, o que se vê são imagens emblemáticas das rotinas e experiências cotidianas às quais estamos todos submetidos, quer seja pelo confronto com as tecnologias ou pelo embate com nossos iguais. Dissipando fronteiras, July transita entre o cinema e a arte visual, aproxima o espectador de sua obra e põe em cheque o abismo entre arte e vida real.
Os vídeos da mostra de Miranda July foram exibidos em uma instalação criada pelo arquiteto Cláudio Resmini, que reproduz em tamanho gigante aqueles tradicionais monóculos fotográficos. As exibições aconteceram de terça a domingo, das 14 às 20 horas, até o dia 30 de dezembro com enhtreda franca.


A obra interativa learningtoloveyoumore.com estará em exibição em um monitor localizado na Galeria do DMAE.

PROGRAMAÇÃO

Haysha Royko (2003, 4 minutos)
Filmado no Aeroporto Internacional de Portland. Três pessoas estão sentadas, indiferentes, em cadeiras de um aeroporto, enquanto suas auras de cores diversas, ou algo muito parecido com auras, mudam de forma, se sobrepõem e competem.

The Amateurist (1998, 14 minutos)
Um breve, cativante vídeo sobre vigilância, identidade, observar e ser observado, The Amateurist transita entre horror e sátira, criando um retrato inquietante de uma mulher à beira de uma loucura gerada pela tecnologia.


Nest of Tens (1999, 27 minutos)
Quatro histórias paralelas que mostram métodos de controle comuns ainda que pessoais. Esses sistemas são obtidos de fontes intuitivas. Crianças e adultos retardados operam painéis de controle feitos de papel, listas, monstros e seus próprios corpos.

Getting Stronger Every Day (2001, 7 minutos)
Há dois filmes que vi na TV sobre meninos que foram tirados de suas famílias e retornaram a elas alguns anos depois. Um dos meninos viveu numa divertida espaçonave por anos e, o outro, foi raptado e molestado. Esses meninos nunca mais foram os mesmos e simplesmente não conseguiram se reintegrar à família. Vi esses filmes quando era pequena. Costumava descrevê-los para as pessoas, sempre os dois juntos. Eles são como versões comédia e tragédia da mesma história, uma história comumente espiritual. Getting Stronger Every Day mostra os contos destes meninos, mas como objetos místicos colocados na realidade do homem contador de histórias.

Atlanta (1996, 10 minutos)
Uma nadadora olímpica de 12 anos e sua mãe (ambas interpretadas por July) falam ao público a respeito da “busca pelo ouro”.

Mostra Endurance nos Jardins do DMAE

Gilbert & George, Orlan, Bruce Nauman, Vito Acconci, Paul McCarthy.
Nomes da linha de frente da arte contemporânea, que costumam apresentar seus trabalhos em lugares como a Tate Modern em Londres, o MOMA em Nova York ou o Centro Pompidou em Paris, estes e outros artistas estarão expondo pela primeira vez em Porto Alegre, em uma mostra a ser inaugurada no próximo dia 9 de novembro, nos jardins do DMAE.

A ambiciosa iniciativa é da Secretaria Municipal da Cultura, através da sua Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia, responsável pela concepção da mostra de vídeo-arte Endurance/Limite, que reúne uma série de filmes e vídeos produzidos entre o final da década de 1960 e a década de 90, realizados por 17 artistas de renome internacional. Em comum, todos os trabalhos possuem o elemento que dá unidade ao projeto: o corpo humano – mote de discussão entre artistas e intelectuais que se debruçam sobre os limites e as potencialidades da contemporaneidade em um período culturalmente tão conturbado quanto o atual.

Os 17 artistas reunidos em torno desta mostra investigam não apenas as particularidades da natureza humana, mas propõem uma ampla reflexão sobre a criação artística, a hegemonia estética, a passagem do tempo, a dor física e psíquica, a tecnologia. Entre os destaques da mostra Endurance/Limite, a dupla britânica Gilbert & George, que apresenta The Singing Sculpture, um de seus primeiros e mais festejados trabalhos; a francesa Orlan está representada pela obra Operation Reussie, na qual ela própria se submete a uma cirurgia plástica monitorada por um circuito de TV; Revolving Upside Down, de Bruce Nauman, dá as pistas para a compreensão da obra deste que é considerado um dos mais importantes artistas contemporâneos; o americano Skip Arnold tem dois de seus filmes aqui exibidos, Punch e Marks – neste último, ele arremete o próprio corpo contra as quatro paredes de um quarto branco, somente concluindo a performance no momento em que perde a consciência; Vito Acconci mostra o controverso Waterways: 4 Saliva Studies; já o polêmico Paul McCarthy, um dos nomes de maior expressão no âmbito da performance e da body art, apresenta a série Black and White Tapes. Todos os trabalhos são considerados obras de referência da vídeo-arte, e vários deles estão entre as primeiras e pioneiras experiências de registro em vídeo de artistas performáticos como Acconci e Nauman.

Os vídeos da mostra Endurance/Limite foram exibidos em uma grande caixa vermelha, criada pelo designer e arquiteto Claúdio Resmini, a ser montada nos jardins do DMAE (Rua 24 de Outubro, 200). No dia 19 de novembro, às 18:30, no Auditório do DMAE, aconteceu o debate Limite(s): A Performance e o Vídeo, com a participação dos artistas Elaine Tedesco, Fernando Bakos e Marcelo Gobatto.

PROGRAMAÇÃO

Bruce Nauman
Revolving Upside Down (1968, 10 minutos)
O estilo exploratório de Nauman e suas preocupações iniciais com a lingüística e com o jogo temporal se refletem em diversas obras de escultura e em projetos de vídeo que elegem como objeto uma série de atos mundanos e repetitivos que exigem esforço físico contínuo e considerável concentração mental. Em Revolving Upside Down uma câmera invertida acompanha Nauman caminhando pelas paredes de um quarto, desafiando as leis da gravidade. O vídeo parece ser uma prova da resistência de Nauman em um exercício para se tornar numa máquina humana.

Vito Acconci
Waterways: 4 Saliva Studies (1971, 22 minutos)Os projetos de vídeo produzidos por Vito Acconci no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 pareciam transpor os termos do Minimalismo e da Arte Processual, expandindo a natureza auto-reflexiva e fragmentada do vídeo. De seu interesse inicial em poesia, Acconci voltou-se em direção à performance e aos trabalhos em vídeo, com a intenção de “definir meu corpo no espaço, encontrar um terreno para mim, um terreno alternativo ao que eu tinha como poeta”. Descobrindo seu corpo como um lugar e uma fonte de atividade artística, Acconci surgiu no primeiro plano do movimento da Body Art na década de 70. Em Waterways, Acconci explode a noção de criação artística. Aqui o seu ato criativo é a acumulação e a secreção de saliva, encarada como uma atividade pertencente ao domínio das atividades físicas e artísticas. Acconci recusa o terreno da body art e da arte processual, formulando o corpo como processo e a arte como uma função natural do corpo.

Gilbert & George
The Singing Sculpture (1968/88, 23 minutos)Gilbert & George têm trabalhado juntos por mais de 20 anos. The Singing Sculpture está entre seus mais antigos e famosos trabalhos. Este filme dirigido por Philip Haas foi realizado por ocasião do vigésimo aniversário de The Singing Sculpture. Assim como o original de 1968, The Singing Sculpture foi apresentado na Sonnabend Gallery, em Nova York. O filme intercala a escultura com trechos de entrevistas com os artistas. Movendo-se com gestos lentos e robóticos ao som de Underneath the Arches, uma canção sobre mendigos do período da Depressão, a dupla alterna papéis, como homens dourados em ternos de executivos. The Singing Sculpture remete ao pathos e ao desespero das maratonas de dança da década de 1930, refletindo também a alienação de nossa sociedade pós-industrial.

Dennis Oppenheim
Material Interchange and Nail Sharpening (1970, 6 minutos)No começo dos anos 1970, Dennis Oppenheim estava na vanguarda dos artistas que faziam uso do cinema e do vídeo como meio de investigar temas relacionados à body art, à arte conceitual e à performance. Em uma série de trabalhos produzidos entre 1970 e 1974, Oppenheim usou seu próprio como um local de desafio a si próprio: ele explorou fronteiras de risco pessoal, transformação e comunicação através de ações performáticas ritualísticas e interações. Material Interchange and Nail Sharpening é um excerto de uma compilação entitulada Aspen Projects. A brevidade dessas seleções dá preferência à intensidade da ação, ressonando longamente após a projeção das imagens.

Geoffrey Hendricks
Body/Hair (1971, 10 minutos)Geoffrey Hendricks, artista americano associado ao movimento Fluxus, tem realizado ao longo dos últimos 30 anos um trabalho que investiga o corpo ao mesmo tempo como um espaço e um objeto a ser transformado e transcendido. As performances de Hendricks aderem a uma noção de ritual baseado nas realidades da vida cotidiana, explorando acontecimentos da sua vida pessoal. Body/Hair vai além das fronteiras entre o público e o privado. O artista depila os pelos de seu corpo, “como uma cobra se despe de sua pele”, preservando apenas a sua barba. Para Hendricks, este gesto era “uma forma de dizer que eu sou diferente e, ao mudar de pele, tornar-me de certo modo renascido”.

Bonnie Sherk
Portable Parks 1-3, Sitting Still, Pacing, Public Lunch (ex) (1970-1971, 14 minutos)Desde 1960, Bonnie Sherk tem investigado as relações entre o seu corpo e o meio-ambiente. Freqüentemente, o seu trabalho aponta as tensões entre a vida humana e a natureza. Portable Parks 1-3 mostra parques criados pela artista em espaços “intermediários” em São Francisco. Em Sitting Still, Sherk aparece sentada sobre um depósito de lixo, vestindo um traje de noite. Em Pacing, a artista aparece em situações de espera e meditação em lugares públicos (parques, ruas, praças e até mesmo uma jaula de zoológico). Em Public Lunch, ela come dentro da jaula dos leões no Zoológico de São Francisco, ao mesmo tempo em que os animais são alimentados. Com este trabalho, Sherk deu início a seus trabalhos com animais, o qual ela segue desenvolvendo ainda hoje em São Francisco e Nova York.

Carolee Schneemann
Up To and Including Her Limits (1973-1976, 10 minutos)Desde o início dos anos 1960, a artista radicada em Nova York Carolee Schneemann participa do circuito de arte, especialmente no âmbito do happening, da body art e da performance. A artista ficou conhecida como “the body beautiful”, graças ao uso que fazia do seu corpo nu, proporcionando um diálogo em torno do corpo feminino como lugar de ação e não de objetificação. Os experimentos performáticos de Schneemann utilizam a celebração do corpo como crítica das percepções culturais. Mais teatral do que o trabalho de Acconci e Nauman, mas oferecendo a mesma atenção ao movimento repetitivo, em Up To and Including Her Limits ela descreve como transforma seu corpo de um estado animado para um estado mecânico.

Paul McCarthy
The Black and White Tapes (1970-1975, 33 minutos)Paul McCarthy é uma figura influente no âmbito da body art e da performance nos últimos vinte anos. The Black and White Tapes derivam de uma série de peças de estúdio. Cada peça foi concebida especialmente para a câmera. O uso de suportes de apoio e o absurdo proliferam em cada um dos curtas. Como descreveu em um catálogo sobre sua obra publicado recentemente, intenção de McCarthy é “minar as profundezas da família e da infância, através do uso do kitsch, de detritos culturais pop, do corpo e da sexualidade, criando uma violenta paisagem de disfunção e trauma”.

Kim Jones
San Francisco Walk (1979, 6 minutos)Desde a metade dos anos 70, a artista Kim Jones vem desenvolvendo uma performance/ritual chamada Mudman (homem lama).O Homem de Lama é uma figura que carrega em si a própria destruição e que, ao mesmo tempo, promete renascimento através de sua direta conexão com a terra. A persona do Homem de Lama pode ser vista como uma estrutura de opostos - a polaridade entre Eros e Telos -, ou como uma pessoa possuída pelo seu outro lado - o inconsciente e o desconhecido. Esta dupla imagem transforma Jones, The Mudman, em símbolo do ritual dos pares: homem/mulher, humano/divino, feto/esqueleto, vida/morte.

Linda Montano
Mitchell’s Death (1978, 22 minutos - p/b)Embora originalmente formada como escultora, Linda Montano vem explorando a performance pelos últimos 15 anos, elaborando a temática do tempo e da transformação, alterando consciência e hipnose. Objetivando apagar a distinção entre vida e arte, a prática artística de Montano é marcadamente autobiográfica e freqüentemente envolve uma religiosa disciplina - ela passou dois anos em um convento e estudou Yoga e Zen por um longo período. Ao utilizar a performance como meio para a transformação pessoal e a catarse, Mitchell’s Death representa o luto de Montano pela morte de seu ex marido. Todos os detalhes de sua história, do telefonema anunciando a tragédia ao reconhecimento do corpo do marido, é entoada por Montano a medida em que sua face perfurada por agulhas de acupuntura lentamente entra e sai de foco. O canto é reminiscente de textos budistas, enquanto as agulhas significam a dor necessária ao processo de cura e aceitação.

Barbara Smith
Becoming Bald (1974); Full Jar, Empty Jar (1974); The Perpetual Napkin (1980); tempo total: 4 minutosO trabalho da artista sul californiana Barbara Smith se concentra nas relações humanas levadas ao limite entre a vida e a arte. Smith foi uma das primeiras artistas performáticas do sexo feminino a surgir no final dos anos 60 e a confrontar diretamente questões da mente, do corpo e do espírito. De acordo com Jackie Apple, “o trabalho de Smith explora profundas questões pessoais e espirituais, penetrando os mais sombrios níveis da experiência humana.” Em Perpetual Napkin, Smith usa a metáfora do “correr à exaustão” para que ela possa “explorar as mudanças na consciência e no crescimento causadas pela vida, as quais levam a uma nova compreensão e a um novo desenvolvimento.”

Gordon Matta-Clark
Clockshower (1973, 14 minutos - sem som)Gordon Matta-Clark, mais conhecido por sua documentação fotográfica de prédios desconstruídos, deixou também um corpo de trabalho em filme e vídeo. Clockshower, originalmente um filme, representa uma das mais ousadas performances de Matta-Clark: o artista escalou o topo de uma torre/relógio em Nova Iorque e se banhou, se depilou e escovou os dentes em frente ao relógio. Tal qual a resposta do mundo artístico a Harold Lloyd, Matta-Clark transforma a fachada arquitetônica em teatro.

Skip Arnold
Punch (1992, 10 segundos); Marks (1984, 13 minutos) Arnold usa seu corpo como ponto de partida, realizando um trabalho que evoca formas de poder e agressão. A constituição elegante de Arnold aumenta a provocação física, como em Punch, de 1992, quando o artista pediu a um homem atlético que lhe desse um soco no estômago. Existe uma simplicidade brutal nos projetos de Arnold, na medida em que ele explora o risco físico e joga luz sobre uma sensibilidade de fundo punk. Como seu contemporâneo de Los Angeles, Bob Flanagan, muitas das performances de Arnold acontecem fora dos limites do mundo artístico, atingindo o público dos clubs e da televisão a cabo.

Sherman Fleming
Ax/Vapor (1993, 10 minutos)O artista Sherman Fleming, de Washington D.C., explora, através de seu trabalho, a relação entre resistência física e estruturas sociais. Suas performances se preocupam com a relação entre raça e gênero. Ao submeter seu corpo a uma série de “testes”, Fleming revela o absurdo e o caos da tentativa de controlar o inevitável.
Bob Flanagan, Sheree Rose e Kirby DickAutopsy (1994, 16 minutos)Com a idade de 40 anos, Bob Flanagan está entre os mais velhos sobreviventes da fibrose cística, uma doença genética degenerativa que afeta os pulmões e o estômago e que, comumente, é letal no princípio da adolescência. Trabalhando em colaboração com Sheree Rose por mais de 15 anos, o uso que Flanagan faz da doença trás referências ao masoquismo. A carreira performática de Flanagan começou no final dos anos 70, nos clubs de Los Angeles. As primeiras performances envolviam leitura de poesia e stand-up comedies. Mais tarde, Flanagan incorporou performances-manifestos que desafiavam os limites da cultura sexual underground e da performace como espetáculo. Autopsy é a primeira produção de uma série de vídeos e filmes que abordam temas como o masoquismo, a dominação e a submissão, a doença e a morte.

Linda Montano
Seven Years of Living Art (1994, 13 minutos)Uma colagem de vídeos feitos durante sete anos que fazem a crônica de assuntos e acontecimentos que ocorreram na vida da artista a medida em que ela devotou cada ano a um chacra. Começando com uma obra dedicada aos temas do comprometimento e da limitação, o trabalho se torna um fascinante híbrido de vida e arte, ao passo em que Montano experiencia o princípio da menopausa, a morte de sua mãe, a escolha de entrar e sair de um convento, o sofrimento de um derrame e pensamentos de morte.

Orlan
Operation Reussie (1994, 8 minutos)Desde maio de 1990, Orlan vem desenvolvendo um projeto chamado “A Reencarnação da Santa Orlan ou Imagem (ens) – Nova (s) Imagem (ens)”, no qual ela se submete a uma série de intervenções cirúrgicas.
Comentários:
“Orlan denuncia padrões de beleza. Suas cirurgias são um sinal de protesto contra a cirurgia cosmética. Em sua cirurgia em Nova Iorque, ela queria mudanças importantes, como, por exemplo, as protuberâncias que ela, hoje, tem nas têmporas. Esta performance foi exibida ao vivo, com a ajuda de um equipamento interativo de telecomunicação, em 14 lugares ao redor do mundo, como a Sandra Gering Gallery, em N. Y., o Centro Georges Pompidou, em Paris, o Centro Mac Luhan, em Toronto, o Centro de Mídias Artísticas, em Banff...
“Como sempre, Orlan ficou acordada durante a cirurgia/performance, enquanto explicava seu projeto, respondendo a perguntas e comentários do público. A sala de operações se transforma em seu estúdio. Neste projeto, Orlan está fazendo perguntas sobre a condição do corpo em nossa sociedade. Ela vê o corpo como um lugar de debate público onde são propostas questões críticas de nosso tempo.”

De 9 de novembro a 10 de dezembro de 2005



segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Dia 23 tem debate com Voltaire Schilling



Dentro da programação da mostra O Discreto Charme da Burguesia, teremos, dia 23 de setembro, debate VISCONTI: DO NEO-REALISMO AO DECADENTISMO,
com o historiador Voltaire Schilling.





Antes do debate haverá exibição do filme
VIOLÊNCIA E PAIXÃO, de Luchino Visconti, às 19h, Sala P. F. Gastal.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Burguesia e suas representações em Evento na Usina do Gasômetro

A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre dá início no próximo dia 22 de setembro ao evento O Discreto Charme da Burguesia, que reúne exposição de fotos, mostra de filmes e debates.

Exposição Fotográfica (Galeria Lunara)

25 de setembro a 8 de novembro de 2009

Um dos principais nomes da fotografia do século XX, o inglês Cecil Beaton notabilizou-se pelos retratos de personalidades do jet-set internacional. Morto em 1980, Beaton passou a vida a viajar, convivendo com artistas e dividindo seu tempo entre a criação de cenários e figurinos para cinema (My Fair Lady, Gigi) e teatro, a fotografia de moda para a revista Vogue e os retratos de celebridades. As obras em exibição na Galeria Lunara foram cedidas pela tradicional casa de leilões do Reino Unido, Sotheby’s, detentora do espólio do artista.

O coquetel de abertura da exposição Cecil Beaton – Portraits, que apresenta retratos em grandes dimensões de personalidades como Katharine Hepburn, Marisa Berenson, Marianne Faithfull e Salvador Dalí, acontece no dia 25 de setembro, às 19h, na Galeria Lunara (localizada no 5º andar da Usina do Gasômetro).




Mostra de Filmes (Sala P. F. Gastal)

22 de setembro a 4 de outubro de 2009

A representação da burguesia sempre interessou ao cinema, desde os seus primórdios. Mas é especialmente nas décadas de 1960 e 1970 que as grandes obras sobre o tema serão produzidas, em demolidoras visões críticas assinadas por diretores como Luís Buñuel, Luchino Visconti, Claude Chabrol, Joseph Losey, Pier Paolo Pasolini ou Federico Fellini. A presente mostra reúne 18 filmes, entre títulos clássicos e produções recentes, que se dedicam a perscrutar a condição burguesa ao longo do século XX, bem como retratar os embates de classe por ela despertados.

A programação tem o apoio das distribuidoras Lume Filmes, Versátil, Pandora, Play Arte e Califórnia Filmes.

Debates (Sala P. F. Gastal)

Dias 23 e 29 de setembro de 2009

A programação da mostra de filmes O Discreto Charme de Burguesia inclui dois debates. No dia 23 de setembro será realizado o debate Visconti: Do Neo-realismo ao Decadentismo, com o historiador Voltaire Schilling, antecedido pela exibição de um dos clássicos de Luchino Visconti, Violência e Paixão.

Já no dia 29 de setembro, às 19h, o cineasta João Moreira Salles estará falando sobre A Representação da Elite no Documentário Contemporâneo, a partir de dois grandes títulos em torno do tema, Santiago (dirigido pelo próprio João) e Grey Gardens, de Albert Maysles, David Maysles, Ellen Hovde e Muffie Meyer.

Ambos os debates são abertos ao público e tem entrada franca.

Programação da Mostra de Filmes

GREY GARDENS, de Albert Maysles, David Maysles, Ellen Hovde e Muffie Meyer (EUA, 1975, 100 minutos)

Em 1973, autoridades locais tentaram expulsar mãe e filha de uma mansão decadente no balneário de luxo de East Hampton, alegando falta de condições sanitárias. Um clássico do cinema documentário americano. Exibição em DVD.

VIOLÊNCIA E PAIXÃO (Gruppo di Famiglia in un Interno), de Luchino Visconti (Itália/França, 1974, 121 minutos)

Um professor aposentado (Burt Lancaster) tem sua rotina interrompida quando passa a conviver com os membros de uma família da alta burguesia que se muda para o seu prédio. Exibição em DVD.



SANTIAGO, de João Moreira Salles (Brasil, 2007, 80 minutos)

Documentário sobre o mordomo

Santiago Badariotti Merlo, que dedicou sua vida a servir a família Moreira Salles. As imagens foram rodadas em 1992, mas permaneceram intocadas por mais de 13 anos. Exibição em DVD.


O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA (Le Charme Discret de la Bourgeoisie), de Luís Buñuel (Espanha/França/Itália, 1972, 102 minutos) Sonho e realidade se misturam nessa crítica surreal aos modos da burguesia. Reunidos em um típico jantar burguês, seis amigos não conseguem aproveitar a ocasião, em virtude de uma sucessão de acontecimentos estranhos e incomuns. Exibição em DVD.



A DOCE VIDA (La Dolce Vita), de Federico Fellini (França/Itália, 1960, 174 minutos)

Na Roma dos anos 60, o jornalista Marcello Rubini (Marcello Mastroian

ni) passa os dias entre celebridades e milionários, buscando a felicidade efêmera em festas e sexo. Exibição em DVD.


CASAMENTO OU LUXO? (A Woman of Paris), de Charles Chaplin (EUA, 1923, 91 minutos)

Pouco conhecido longa-metragem dramático de Charles Chaplin, foi um grande fracasso de público à época de sua estreia. Na Paris dos anos 20, garota torna-se amante de um milionário, apesar de estar apaixonada por outro homem. Exibição em DVD.


O ANJO EXTERMINADOR (El Angel Exterminador), de Luís Buñuel (México, 1962, 95 minutos)

Após uma extravagante e farta refeição, os convidados de uma festa não conseguem ir embora. Nos dias que se seguem, confinados naquele ambiente suntuoso, as máscaras da civilização começam a cair e o grupo passa a viver como animais. Exibição em DVD.


PECADOS INOCENTES (Savage Grace), de Tom Kalin (Espanha/EUA, 2007, 96 minutos)

A história verdadeira da bela e carismática Barbara Daly (Julianne Moore), casada com Br

ooks Baekeland, herdeiro da fortuna da indústria de plásticos Bakelite. Seu único filho é um fracasso diante dos olhos do pai e quando ele cresce fica cada vez mais perto de sua solitária mãe, abrindo o caminho para um desfecho trágico. Exibição em 35mm.




UMA MULHER DO OUTRO MUNDO (Blithe Spirit), de David Lean (Inglaterra, 1945, 96 minutos)

Homem recém casado é assombrado pelo espíri

to de sua primeira mulher, morta há vários anos. Comédia clássica, com roteiro assinado por Noël Coward, um dos grandes cronistas do comportamento da alta burguesia europeia. Exibição em DVD.

MATCH POINT, de Woody Allen (Luxemburgo/EUA/Inglaterra, 2005, 124 minutos)

Jovem e ambicioso instrutor de tênis consegue se aproximar de família rica. Passa a namorar a filha do patriarca, porém se envolve também com a namorada do irmão da moça. Em algum momento, terá de se decidir por uma das duas. Exibição em 35mm.

O DESERTO VERMELHO (Il Deserto Rosso), de Michelangelo Antonioni (França/Itália, 1964, 113 minutos)

Chuva, neblina, frio e poluição assolam a cidade industrial de Ravenna, na Itália. Ugo, o gerente de uma usina local, é casado com Giuliana (Monica Vitti), uma dona d

e casa que sofre de problemas psicológicos e se envolve com um engenheiro (Richard Harris) que trabalha com seu marido. Exibição em DVD.


O TEMPO REDESCOBERTO, de Raoul
Ruiz (França/Itália/Portugal, 1999, 162 minutos)

Em seu leito de morte, o escritor francês Marcel Proust recorda passagens de sua vida e de personagens de sua obra Em Busca

do Tempo Perdido. Exibição em 35mm.


O CRIADO (The Servant), de Joseph Losey (Inglaterra, 1963, 112 minutos).

As relações entre um mordomo e seu patrão acabam assumindo um aspecto doentio. Exibição em DVD.


TEOREMA (Teorema), de Pier Paolo Pasolini (Itália, 1968, 100 minutos)

A chegada de um belo jovem (Terence Stamp) abala os membros da família de um poderoso industriário. Aos poucos, ele vai seduzindo a empregada, a mãe, o filho, a filha e, finalmente, o pai. Assim como veio, ele parte sem dar mais explicações, deixando um vazio de existência na casa. Exibição em 35mm.


RETORNO A HOWARDS END (Howards End), de James Ivory (Japão/Reino Unido, 1992, 140 minutos)

Inglaterra, início do século XX. Duas irmãs que vivem de herança desenvolvem amizade com família de um rico comerciante. Quando sua esposa morre, ele propõe casamento à mais velha, criando um forte conflito entre ambas as famílias. Exibição em DVD.


O GRANDE GATSBY (The Great Gatsby), de Jack Clayton (EUA, 1974, 144 minutos)

Suntuosa adaptação do romance de F. Scott Fitzgerald, sobre novo rico (Robert Redford) que busca ser aceito junto à alta sociedade de Long Island. Exibição em DVD.


AS CORÇAS (Les Biches), de Claude Chabrol (Itália/França, 1968, 100 minutos)

Mulher rica (Stéphane Audran) seduz uma jovem artista de rua (Jacqueline Sassard) e a acolhe em sua casa em Saint Tropez. A chegada de um arquiteto (Jean-Louis Trintignant) irá abalar o relacionamento das duas mulheres. Exibição em DVD.

ROLETA CHINESA (Chinesisches Roulette), de Rainer Werner Fassbinder (Alemanha/França, 1976, 96 minutos)

Um rico casal passa final de semana em um castelo, na companhia de seus amantes. A chegada inesperada de sua filha adolescente acaba tensionando as relações entre todos. Exibição em DVD.



GRADE DE HORÁRIOS

Primeira Semana (22 a 27 de setembro de 2009)


22 de setembro (terça-feira)
15:00 – O Anjo Exterminador
17:00 – O Deserto Vermelho (entrada franca)
19:00 – O Discreto Charme da Burguesia (entrada franca)

23 de setembro (quarta-feira)
15:00 – O Criado
17:00 – Teorema
19:00 – Violência e Paixão, seguido de debate com o historiador Voltaire Schilling (entrada franca)

24 de setembro (quinta-feira)
15:00 – Teorema
17:00 – Pecados Inocentes
19:00 – Violência e Paixão

25 de setembro (sexta-feira)
15:00 – Grey Gardens
17:00 – O Anjo Exterminador
19:00 – O Tempo Redescoberto

26 de setembro (sábado)
15:00 – O Discreto Charme da Burguesia (entrada franca)
17:00 – A Doce Vida (entrada franca)

27 de setembro (domingo)
15:00 – Pecados Inocentes
17:00 – Teorema
19:00 – Violência e Paixão

Segunda Semana (29 de setembro a 4 de outubro de 2009)


29 de setembro (terça-feira)
15:00 – Uma Mulher do Outro Mundo
17:00 – Santiago
19:00 – Grey Gardens, seguido de debate com o cineasta João Moreira Salles

30 de setembro (quarta-feira)
15:00 – As Corças
17:00 – Match Point
19:00 – O Grande Gatsby

1º de outubro (quinta-feira)
15:00 – O Criado
17:00 – Roleta Chinesa
19:00 – O Tempo Redescoberto

2 de outubro (sexta-feira)
15:00 – Casamento ou Luxo?
17:00 – Uma Mulher do Outro Mundo
19:00 – Retorno a Howards End

3 de outubro (sábado)
15:00 – Roleta Chinesa
17:00 – Match Point
19:00 – O Tempo Redescoberto

4 de outubro (domingo)
15:00 – O Deserto Vermelho (entrada franca)
17:00 – A Doce Vida (entrada franca)