A Sala P. F. Gastal retomou dia 8 de abril, às 20h, as sessões do Projeto Raros, exibindo o polêmico filme francês Não Nos Livre do Mal, de Joël Séria , produção de 1971 nunca lançada nos cinemas brasileiros.
Constantemente incluído na extensa galeria de filmes malditos dos anos 1970, Não Nos Livre do Mal (Mais Ne Nous Délivrez Pas du Mal) causou alvoroço em seu lançamento, despertando a ira da igreja e chocando o público mais conservador, ao retratar sem pudores a amizade doentia entre duas adolescentes que desafiam normas sociais, empreendendo uma desenfreada e iconoclástica viagem rumo à autodestruição. Numa atitude de recusa às convenções, as jovens Anne (Jeanne Goupil) e Lore (Catherine Wagener) realizam missas negras, seduzem homens incautos e provocam tragédias ao praticarem perigosas brincadeiras. Inicialmente banido pela censura francesa por sua "perversão, sadismo e outras formas de destruição mental e moral”, o filme foi liberado após nove meses de proibição total para ser exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.
Apesar da boa recepção por parte da crítica, Não Nos Livre do Mal fez uma carreira errática nos cinemas, sofrendo constante pressão de entidades religiosas e de censores de plantão, até cair gradualmente no esquecimento. Seu lançamento em DVD nos Estados Unidos (em 2006) e no Japão (em 2008) e novas exibições em festivais de cinema fantástico como o Night Visions Film Festival (na Finlândia) e o L’Etrange Festival (na cidade francesa de Lyon) deram início a uma nova onda de culto em torno deste estranho filme que somente agora, exatos 40 anos após a sua estreia (sua primeira exibição aconteceu em 5 de abril de 1971, no Festival de Cannes), poderá ser finalmente conhecido pelos espectadores porto-alegrenses.
A sessão de Não Nos Livre do Mal teve comentários do jornalista Thomaz Albornoz. Exibição em DVD. Diálogos em francês, com legendas em espanhol.
Não Nos Livre do Mal (Mais Ne Nous Délivrez Pas du Mal), de Joël Séraa (França, 1971, 102 minutos).
Com Jeanne Goupil, Catherine Wagener, Bernard Dhéran e Gérard Darrieu. Colorido. Diálogos em francês, com legendas em espanhol. Exibição em DVD.
MAIS NEGRO QUE A NOITE
O Projeto Raros apresentou nesta sexta-feira, 13 de maio, às 20h, a produção de horror mexicana Mais Negro que a Noite, do cultuado diretor Carlos Henrique Taboada.
Quatro amigas vão residir numa antiga mansão, herdada após a morte da tia de uma delas A única cláusula para permanecerem na casa é que cuidem de Becker, um gato negro e arisco que era a única paixão da falecida tia. Após o gato ser encontrado morto, uma força estranha começa a rondar a mansão e atormentar as quatro mulheres. A tensão aumenta quando as amigas começam a ser vitimadas por mortes bizarras.
Apesar de Taboada (1929-1997) ter investido nos mais diversos gêneros, foi no cinema fantástico que ele deixou a sua marca. Seus filmes, mesmo com orçamentos modestos, costumavam se destacar pelo apuro técnico, e pela inventividade como ressoavam em pleno México temas caros ao horror gótico europeu. Crianças perversas, almas atormentadas e seres vingativos povoavam o universo sombrio de seus filmes, transformando sua obra em objeto de culto entre os admiradores do gênero. Em Mais Negro que a Noite (1975), Taboada transpõe habilmente suas referências góticas para um universo urbano e moderno, deixando de lado o bucolismo sombrio de obras anteriores como Até o Vento Tem Medo (1968) e O Livro de Pedra (1969).
Mais Negro que a Noite foi exibido em cópia em DVD, com diálogos em espanhol e sem legendas.
Mais Negro que a Noite (Más Negro que la Noche), de Carlos Enrique Taboada (México, 1975, 96 minutos). Com Claudia Islas, Susana Dosamantes, Helena Rojo e Lúcia Méndez.
Dia 27 de maio, às 20:15, uma sessão especial do Projeto raros para comemorar o centenário do ator Vincent Price (1911-1993).
Ator-fetiche para os fãs de cinema de horror, Price nasceu há exatos 100 anos, no dia 27 de maio de 1911, no estado de Missouri, nos Estados Unidos. Para celebrar a ocasião, o Raros exibe uma das obras mais emblemáticas da longa carreira de Price (que atuou em mais de 100 filmes): o clássico O Abominável Dr. Phibes (1971), de Robert Fuest.
Em O Abominável Dr. Phibes Price interpreta o papel-título, um cirurgião respeitado e de comportamento bizarro que, depois de perder sua esposa durante uma cirurgia, prometeu vingança aos médicos que a operaram. Um a um, ele vai exterminando a todos, usando o Velho Testamento como referência para os assassinatos. Graças à direção estilizada de Robert Fuest e ao visual rebuscado (fruto do original trabalho de direção de arte de Bernard Reeves e dos figurinos de Elsa Fennell), O Abominável Dr. Phibes foi muito bem recebido e desde então se transformou em objeto de culto, não apenas pelos fãs do gênero, mas pelos cinéfilos em geral. O sucesso do filme foi tão grande que gerou uma sequência, A Câmera de Horrores do Dr. Phibes, lançada em 1972.
O Abominável Dr. Phibes foi exibido numa cópia em DVD, com legendas em português.
O Abominável Dr. Phibes (The Abominable Dr. Phibes), de Robert Fuest. Inglaterra/EUA, 1971, 94 minutos. Com Vincent Price, Joseph Cotten, Virginia North e Terry-Thomas.
O projeto Raros exibiu, no dia 12 de agosto, o filme espanhol A Caça (La Caza), segundo longa-metragem do diretor espanhol Carlos Saura, cineasta que enfrentou diversos problemas com a censura durante o governo do ditador Francisco Franco. Produzido em 1966, A Caça nunca foi lançado nos cinemas brasileiros, e nem mesmo em DVD. A sessão inicia às 20h e tem entrada franca.
O filme mostra um grupo de amigos que sai para uma caçada em região que foi cenário de sangrentos conflitos durante a Guerra Civil Espanhola. A trama é um pretexto para Saura realizar uma poderosa alegoria sobre o regime ditatorial do General Francisco Franco. Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Berlim, A Caça abriu para o jovem Saura as portas do mercado cinematográfico europeu. Logo em seguida, o diretor conhece a atriz Geraldine Chaplin, com quem realizaria uma série de filmes célebres como Ana e os Lobos, Cria Cuervos e Elisa, Vida Minha, que o tornaram conhecido o Brasil.
A Caça foi exibido numa cópia em DVD, com diálogos e legendas em espanhol.
A Caça (La Caza), de Carlos Saura. Espanha, 1966, 91 minutos. Com Ismael Merlo, Alfredo Mayo, José Maria Prada e Emílio Gutierrez Caba. Drama. Preto e branco.
O projeto Raros exibiu, dia 7 de outubro, às 20 horas, o cultuado thriller australiano Mais Próximo do Terror (Next of Kin). Realizado em 1982 por Tony Williams, esta obra tétrica, após anos no limbo do esquecimento, vem sendo redescoberta por cinéfilos (sendo Quentin Tarantino um dos seus fãs mais exaltados) impressionados pela capacidade do filme gerar tensão através de seu apurado senso estético. Sua decupagem, repleta de planos inusitados e sombrios, revela um inteligente e laborioso exercício de suspense em que o domínio da técnica revela-se essencial para a composição de um pesadelo gótico em plena área rural australiana.
Após a morte de sua mãe, Linda (Jacki Kerin) retorna para um vilarejo no interior da Austrália para reger o negócio da família, uma mansão gótica transformada num asilo para idosos. Enquanto tenta se habituar ao novo ambiente, Linda reencontra Barney (John Jarratt), um antigo namorado, ao mesmo tempo em que começa a ser atormentada por pesadelos e bizarras lembranças de infância. Quando um dos internos é encontrado morto na banheira, segredos vêm à tona, revelando que a aparente normalidade do asilo esconde um passado de mortes misteriosas.
Mais Próximo do Terror (Next of Kin), de Tony Williams (Austrália, 1982). Duração: 85 minutos.
O projeto Raros exibiu, dia 04 de novembro, às 20 horas, o filme belga Crazy Love, baseado na obra do escritor maldito Charles Bukowski. Realizado em 1987, Crazy Love é o primeiro longa-metragem do diretor belga Dominique Deruddere, mais conhecido do grande público por sua indicação ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2001 por Fama Para Todos.
Inspirado em diversos contos de Bukowski, sendo mais evidente a transposição de “A Sereia que Copulava em Veneza, Califórnia”, do livro “Crônica de Um Amor Louco”, a trama acompanha três momentos distintos na vida do trágico e patético personagem Harry Voss, e sua incessante busca por amor e aceitação, passando por sua adolescência conturbada, até focar o retrato cruel de um homem amargo e solitário. Crazy Love é considerada uma das mais fiéis adaptações do universo de desesperança e degradação concebido por Bukowski.
Inspirado em diversos contos de Bukowski, sendo mais evidente a transposição de “A Sereia que Copulava em Veneza, Califórnia”, do livro “Crônica de Um Amor Louco”, a trama acompanha três momentos distintos na vida do trágico e patético personagem Harry Voss, e sua incessante busca por amor e aceitação, passando por sua adolescência conturbada, até focar o retrato cruel de um homem amargo e solitário. Crazy Love é considerada uma das mais fiéis adaptações do universo de desesperança e degradação concebido por Bukowski.
Crazy Love, de Dominique Deruddere (Bélgica, 1987). Duração: 90 minutos.
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