quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Julian Rosefeldt na 3ª edição do Projeto Videoarte

Nesta terceira edição do projeto Videoarte nos Jardins do DMAE, a Secretaria Municipal da Cultura, através da sua Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia, trouxe a Porto Alegre duas obras recentes do artista alemão Julian Rosefeldt: Asylum e Lonely Planet. Ambos rodados em 16 mm, os filmes abordam de maneira distinta algumas questões centrais na discussão das dinâmicas do mundo globalizado: fluxos migratórios, a identidade e a alteridade no imaginário cosmopolita, culturas cêntricas versus culturas periféricas, entre outras.

Embora os matizes políticos e antropológicos sejam fundamentais à compreensão da obra de Rosefeldt, são as qualidades plásticas destes títulos que notabilizam a maestria com que o artista revela dramas contemporâneos em exercícios visuais do mais alto refinamento estético, da mais precisa construção formal e do mais elaborado apuro estilístico.

Em Asylum, Rosefeldt constrói em notas surrealistas e cores saturadas tableaux vivants dentro dos quais situa nove minorias étnicas na Europa, marginais ao processo de inclusão econômica e cultural no mundo desenvolvido: vietnamitas, turcos, albaneses, kosovares, afegãos, ciganos, romenos, chineses e tailandeses. Confinados a cenários estanques e bizarros, os figurantes de Rosefeldt desenvolvem rigorosas coreografias em câmera-lenta, de lógica própria, ritmo automático e propósito nulo, sem que estabeleçam qualquer diálogo com o mundo exterior, salvo pelo mantra de fechamento cantado em uníssono pelos peões dispostos no tabuleiro onírico do artista.

Lonely Planet é a narrativa de registro semi-fictício, semi-documental, sobre um andarilho/turista/performer – interpretado pelo próprio Rosefeldt – que circula por uma Índia dividida e estereotipada, vista através de seqüências que nos confrontam com a miséria das ruas e da margem do Ganjes, com a estética kitsch dos estúdios de Bollywood e com a assepsia dos interiores informatizados que alavancam as estatísticas do crescimento econômico daquele país.

Rosefeldt vem ganhando ampla atenção internacional através de exibições de grande sucesso na Kunsthalle de Basel (Basel), na Tate Gallery (Londres), na PS. 1 (NY), entre outras.

Ao lado das obras de Julian Rosefeldt serão exibidos outros dois filmes, Piknik e Treinamento, também rodados em 16 mm.




O primeiro, realizado pelos videomakers gaúchos Luiz Roque e Mariana Xavier, e produzido por Jaqueline Beltrame, apresenta um grupo de amigos que durante um piquenique é surpreendido por uma estranha fumaça branca que surge inexplicavelmente de um arbusto.



O segundo, Treinamento, consiste em um experimento em câmera-lenta no qual o próprio artista, Luiz Roque, se submete a uma série de absurdas provas físicas e ataques sem sentido.Ainda que estes dois trabalhos filmados nos Jardins do DMAE não permitam, a priori, uma leitura política, ambos apresentam uma atmosfera de risco e de vulnerabilidade física através de imagens alegóricas – de gases, bombas e explosões – que remetem, de forma lúdica ( e contraditória? ), é bem verdade, aos conflitos bélicos contemporâneos.Com a realização de Piknik, Roque dá continuidade à sua série de vídeos de fumaça: Estufa, exibido na Tate Gallery, em Londres, e Projeto Vermelho, atualmente sendo apresentado na 12° Biennial of Moving Images, em Genebra.

Os quatro filmes selecionados para a presente mostra foram projetados, em loop, por duas horas, sempre à noite, em uma tela tridimensional especialmente construída e instalada nos Jardins do DMAE.





DEBATE COM FÁBIO CYPRIANO (CRÍTICO DE ARTE DA FOLHA DE SP E PROF. DA PUC-SP) 10 DE NOVEMBRO ÀS 18 HORAS

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