Moby Dick, de John Huston |
A mostra Escritores no
Cinema segue em cartaz na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º
andar) até o dia 17 de novembro, apresentando uma seleção de filmes que trazem
roteiros assinados por nomes essenciais da literatura. Na sexta-feira, dia 15 de
novembro, acontece uma edição especial do Projeto Raros com a exibição do
filme argentino Invasão (1969), de Hugo Santiago, com roteiro de
Jorge Luis Borges a partir de história assinada por ele e Adolfo Bioy
Casares.
Escritores no Cinema
A aventura de grandes
gênios da escrita na realização de roteiros é um dos capítulos mais ricos da
relação de amores e tormentas entre o cinema e a literatura. Através de
obras-primas consagradas e pequenos segredos, a contribuição de
escritores marcou profundamente o período clássico de Hollywood.
Foram muitos os homens das letras – interessados em novas possibilidades
de criação e também nos altos cachês pagos pelos grandes estúdios – que
encontraram no cinema uma alternativa de trabalho. Um exemplo célebre é o de
William Faulkner, cuja parceria com Howard Hawks rendeu alguns
clássicos como Uma Aventura na Martinica (1944), adaptação do “pior
romance de Ernest Hemingway”, na definição do próprio autor, tendo Humphrey
Bogart e Lauren Bacall nos papéis principais.
A invasão de grandes
escritores em Hollywood teve seu ápice entre as décadas de 1930 e 1950. Aos
poucos, o descompasso entre a liberdade criativa e as regras rígidas da
indústria diminuiu a presença dos autores. Aldous Huxley, por exemplo,
teve seu argumento para Alice no País das Maravilhas recusado por Walt Disney,
com a justificativa de que aquilo era incompreensível. Antes da experiência
negativa, entretanto, o autor de Admirável Mundo Novo deixou alguns roteiros
emblemáticos como Jane Eyre (1943), adaptação do romance de Charlote
Brontë dirigido por Robert Stevenson.
Ainda na Hollywood
clássica, a mostra exibe filmes roteirizados por nomes modernistas como John
Dos Passos (A Mulher Satânica, de Josef von Sternberg) e
Tennessee Williams (De Repente, no Último Verão, de Joseph L,
Mankiewicz) e mestres da escrita de gênero como Ray Bradbury (Moby
Dick, de John Huston).
Se a partir dos anos 1970,
já num contexto moderno, o cinema norte-americano não manteve a mesma
intensidade em suas parcerias com grandes escritores, ainda encontramos obras
emblemáticas com assinaturas famosas. Charles Bukowski, por
exemplo, estendeu suas obsessões literárias às telas com o roteiro de Barfly
– Condenados pelo Vício (1987), produção da Zoetrope Studios dirigida por
Barbet Schroeder.
A renovação do cinema
britânico nos anos 1960 também contou com a colaboração de escritores
importantes: Truman Capote roteirizou a adaptação de A Volta do Parafuso,
de Henry James, ajudando a criar um marco do horror, Os Inocentes,
dirigido Jack Clayton (1961). Figura central da literatura moderna
francesa, Marguerite Duras assinou a adaptação do roteiro nunca
filmado de Jean Genet em Chamas de Verão (1966), dirigido por Tony
Richardson, com Jeanne Moreau no papel principal. Já o dramaturgo Harold
Pinter estabeleceu uma significativa parceria com Joseph Losey na
fase inglesa do diretor norte-americano, exilado em função do Macartismo,
deixando-nos obras-primas como O Criado (1963).
A mostra também exibe três
momentos distintos da vanguarda francesa em que o cinema e a literatura
estiveram próximos. Um dos pilares do cinema experimental dos anos 1920,
A Concha e o Clérigo, dirigido por Germaine Dulac, tem
roteiro assinado pelo escritor, poeta e dramaturgo Antonin Artaud. No
pós-guerra, Robert Bresson surgia como o principal nome do cinema francês
tendo Jean Cocteau como dialoguista de seu segundo longa-metragem, As
Damas do Bois de Boulogne (1945). Quando a França já vivia a ebulição da
Nouvelle Vague, no início dos anos 1960, Alain Resnais aproximou-se de
Alain Robbe-Grillet e suas propostas inovadoras do Nouveau Roman para
criar O Ano Passado em Marienbad (1961), um dos divisores de água do
cinema moderno.
Para completar a
programação da mostra Escritores no Cinema, no dia 15 de novembro,
sexta-feira, às 20h, acontece uma edição especial do Projeto Raros com a
exibição do filme argentino Invasão (1969), de Hugo Santiago, com
roteiro de Jorge Luis Borges a partir de história assinada por ele e
Adolfo Bioy Casares.
A mostra Escritores no
Cinema será apresentada ao longo de duas semanas e tem o apoio da
distribuidora MPLC e da locadora E O Vídeo Levou.
GRADE DE PROGRAMAÇÃO
12 a 17 de novembro de
2013
A Concha e o Clérigo (La Coquille
et Le Clergyman), de Germaine Dulac. França, 1927, 30 minutos.
Germaine Dulac
esforçou-se para procurar na ação do roteiro de Antonin Artaud os pontos
harmônicos, ligando-os entre si por ritmos estudados e compostos. Existem duas
séries de ritmo. O ritmo da imagem e o ritmo das imagens, ou seja, um gesto deve
ter um comprimento correspondente ao valor harmônico da expressão e depender do
ritmo que precede ou prossegue: ritmo na imagem. Artaud detestou o resultado,
mas o filme se tornou uma obra fundamental da vanguarda francesa dos anos 1920.
Exibição em DVD.
A Mulher Satânica
(The Devil is a Woman), de Josef
von Sternberg. Estados Unidos, 1935, 75
minutos.
Josef von Sternberg
encerra a parceria com Marlene Dietrich neste filme. Antônio Galván (César
Romero), jovem militar com posto de oficial, conhece uma mulher misteriosa e
atraente, Concha Perez (Dietrich), e cai enfeitiçado em seus braços sedutores.
John Dos Passos escreveu o enredo, baseado no romance de Pierre Louys. Anos
depois, Luis Buñuel, adaptou o argumento para o filme Esse Obscuro Objeto do
Desejo. Exibição em DVD.
Jane Eyre (Jane Eyre), de Robert
Stevenson. Estados Unidos, 1943, 97 minutos.
Adaptação da grande
história romântica de Charlotte Brontë, com roteiro de Aldous Huxley, estrelada
por Joan Fontaine e Orson Welles. Depois de uma infância como órfã, Jane Eyre
(Fontaine) consegue um emprego como preceptora da filha do perturbado Edward
Rochester (Welles), um aristocrata inglês. Com o passar do tempo Jane e seu
patrão se apaixonam e decidem se casar. Mas o casamento deles é abalado com a
chegada de um visitante. Exibição em DVD.
Uma Aventura na Martinica (To Have
and Have Not), de Howard Hawks. Estados Unidos, 1944, 100 minutos.
Uma das lendárias
parcerias entre William Faulkner e Howard Hawks, que aceitou o desafio proposto
por Ernest Hemingway: “faça um grande filme baseado no meu pior livro”. Mar do
Caribe, Martinica, 1940. Harry Morgan (Humphrey Bogart) é o capitão e dono de um
pequeno barco. Membros da Resistência Francesa precisam do barco para resgatar
discretamente um colaborador importante. Naquele mesmo dia, Marie Browning
(Laren Bacall), uma batedora de carteiras, rouba o dinheiro de Johnson. Exibição
em DVD.
As Damas do Bois de Boulogne (Les
Dames du Bois de Boulogne), de Robert Bresson. França, 1945, 84 minutos.
Desejando vingar-se
do abandono do amante Jean, Hélene (Maria Casarès), uma dama da alta sociedade,
pede a uma dançarina de cabaret que o seduza. Só que a vingança acabará se
transformando num escandaloso romance. Roteirizado pelo poeta Jean Cocteau e
dirigido por Robert Bresson, As Damas do Bois de Boulogne é um filme de gestos,
de olhares, em que a emoção aflora sob a pureza das imagens. Exibição em DVD.
Moby Dick (Moby
Dick), de John Huston. Estados
Unidos, 1956, 116
minutos.
Consumido por uma
raiva completamente insana, Capitão Ahab tem apenas um objetivo na vida -
vingar-se de Moby Dick, a grande baleia branca, que o feriu e desfigurou. O
roteiro é assinado por Ray Bradbury. Exibição em DVD.
De Repente, no Último Verão
(Suddenly, Last Summer), de Joseph L. Mankiewicz. Estados Unidos, 1959, 114
minutos.
John Cukrowicz
(Montgomery Cliff), um neurocirurgião interessado em conseguir recursos para o
hospital onde trabalha, conhece Violet Venable (Katherine Hepburn), uma rica
senhora da aristocracia que deseja fazer uma lobotomia em Catherine Holly
(Elizabeth Taylor), uma sobrinha supostamente acometida de crises de loucura.
Escrito a quatro mãos, o roteiro deste clássico de Mankiewicz traz nomes como
Tennessee Williams e Gore Vidal. Exibição em DVD.
Os Inocentes (The Innocents), de
Jack Clayton. Estados Unidos/Inglaterra, 1961, 100 minutos.
Algo de
estranho e sinistro estava acontecendo naquela casa, pensou Senhorita Giddens,
contratada para cuidar de Flora e Miles, dois irmãos que ficaram órfãos em
circunstâncias misteriosas. Uma das mais completas adaptações para o cinema da
obra de Henry James, A Volta do Parafuso, estrelada por Deborah Kerr e
roteirizada por Truman Capote. Exibição em DVD.
O Ano Passado em Marienbad
(L'année Dernière à Marienbad), de Alain Resnais. França, 1961, 94
minutos.
Num hotel de luxo,
um homem (Giorgio Albertazzi) tenta convencer uma mulher casada (Delphine
Seyrig) a fugir com ele. Mas ela não consegue lembrar do caso que os dois
supostamente tiveram no ano anterior em Marienbad. Parceira emblemática entre
Alain Resnais e um dos inventores do Nouveau Roman, Alain Robbe-Grillet.
Exibição em DVD.
O Criado (The Servant), de Joseph
Losey. Inglaterra, 1963, 112 minutos.
Jovem rico acaba de
comprar residência no centro de Londres e contrata um criado para lhe auxiliar.
A relação dos dois é um pouco complicada e, aos poucos, a insubordinação vai
tomando proporções catastróficas. Baseado em romance de Robin Maugham, o roteiro
foi escrito por Harold Pinter. Exibição em DVD.
Chamas de Verão (Mademoiselle), de
Tony Richardson. Inglaterra/França. 1966, 100 minutos.
Nesta adaptação da
obra de Jean Genet, roteirizada por Marguerite Duras, Jeanne Moreau é uma
respeitada professora em um vilarejo onde reside um viril italiano por quem ela
nutre um forte desejo. Sexualmente reprimida, ela encontra prazer em vê-lo
realizar atos heróicos em acidentes provocados por ela mesma e também passa a
maltratar o filho dele. Exibição em DVD.
Barfly – Condenados pelo Vício
(Barfly), de Barbet Schroeder. Estados Unidos, 1987, 100 minutos.
O cineasta Barbet
Schroeder encomendou um roteiro a Charles Bukowski, que entregou a história de
Henry Chinaski, um escritor alcoólatra que inicia um romance cheio de
contradições com Wanda Wilcox, outra frequentadora assídua dos bares de Los
Angeles. Exibição em DVD.
GRADE
DE HORÁRIOS
12 a
17 de novembro de 2013
12 de novembro
(terça-feira)
15:00 – A Mulher Satânica, de Josef von
Sternberg
17:00 – Jane Eyre, de Robert Stevenson
20:00 – Sessão
Plataforma (Leviathan, de Lucien Castaing-Taylor e Verena
Paravel)
13 de novembro
(quarta-feira)
15:00 – Uma Aventura na Martinica, de Howard
Hawks
17:00 – Os Inocentes, de Jack Clayton
19:00 – De Repente, no Último Verão, de Joseph L.
Mankiewicz
14 de novembro (quinta-feira)
15:00 – As Damas do Bois de Boulogne, de Robert
Bresson
17:00 – O Criado, de Joseph Losey
19:00 – O Ano Passado em Marienbad, de Alain
Resnais
15 de novembro
(sexta-feira)
15:00 – De Repente, no Último Verão, de Joseph L.
Mankiewicz
17:00 – Moby Dick, de
John Huston
19:00 – A Concha e o Clérigo, de Germaine
Dulac
20:00 – Morango e Chocolate, de Tomás Gutiérrez Alea (sessão comentada com Senel Paz)
20:00 – Morango e Chocolate, de Tomás Gutiérrez Alea (sessão comentada com Senel Paz)
16 de novembro
(sábado)
15:00 – As Damas do Bois de
Boulogne, de Robert Bresson
17:00 – Sessão
Plataforma (Leviathan, de Lucien Castaing-Taylor e Verena
Paravel)
19:00 – Sessão Aurora (Um Burguês muito Pequeno, de Mario Monicelli)
17 de novembro
(domingo)
15:00 – Chamas de Verão, de Tony Richardson
17:00 – O Criado, de Joseph Losey
Nenhum comentário :
Postar um comentário