sexta-feira, 8 de novembro de 2013

MOSTRA ESCRITORES NO CINEMA SEGUE NA SALA P.F. GASTAL


Moby Dick, de John Huston
A mostra Escritores no Cinema segue em cartaz na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar) até o dia 17 de novembro, apresentando uma seleção de filmes que trazem roteiros assinados por nomes essenciais da literatura. Na sexta-feira, dia 15 de novembro, acontece uma edição especial do Projeto Raros com a exibição do filme argentino Invasão (1969), de Hugo Santiago, com roteiro de Jorge Luis Borges a partir de história assinada por ele e Adolfo Bioy Casares.

Escritores no Cinema

A aventura de grandes gênios da escrita na realização de roteiros é um dos capítulos mais ricos da relação de amores e tormentas entre o cinema e a literatura. Através de obras-primas consagradas e pequenos segredos, a contribuição de escritores marcou profundamente o período clássico de Hollywood. Foram muitos os homens das letras – interessados em novas possibilidades de criação e também nos altos cachês pagos pelos grandes estúdios – que encontraram no cinema uma alternativa de trabalho. Um exemplo célebre é o de William Faulkner, cuja parceria com Howard Hawks rendeu alguns clássicos como Uma Aventura na Martinica (1944), adaptação do “pior romance de Ernest Hemingway”, na definição do próprio autor, tendo Humphrey Bogart e Lauren Bacall nos papéis principais.

A invasão de grandes escritores em Hollywood teve seu ápice entre as décadas de 1930 e 1950. Aos poucos, o descompasso entre a liberdade criativa e as regras rígidas da indústria diminuiu a presença dos autores. Aldous Huxley, por exemplo, teve seu argumento para Alice no País das Maravilhas recusado por Walt Disney, com a justificativa de que aquilo era incompreensível. Antes da experiência negativa, entretanto, o autor de Admirável Mundo Novo deixou alguns roteiros emblemáticos como Jane Eyre (1943), adaptação do romance de Charlote Brontë dirigido por Robert Stevenson.

Ainda na Hollywood clássica, a mostra exibe filmes roteirizados por nomes modernistas como John Dos Passos (A Mulher Satânica, de Josef von Sternberg) e Tennessee Williams (De Repente, no Último Verão, de Joseph L, Mankiewicz) e mestres da escrita de gênero como Ray Bradbury (Moby Dick, de John Huston).

Se a partir dos anos 1970, já num contexto moderno, o cinema norte-americano não manteve a mesma intensidade em suas parcerias com grandes escritores, ainda encontramos obras emblemáticas com assinaturas famosas. Charles Bukowski, por exemplo, estendeu suas obsessões literárias às telas com o roteiro de Barfly – Condenados pelo Vício (1987), produção da Zoetrope Studios dirigida por Barbet Schroeder.

A renovação do cinema britânico nos anos 1960 também contou com a colaboração de escritores importantes: Truman Capote roteirizou a adaptação de A Volta do Parafuso, de Henry James, ajudando a criar um marco do horror, Os Inocentes, dirigido Jack Clayton (1961). Figura central da literatura moderna francesa, Marguerite Duras assinou a adaptação do roteiro nunca filmado de Jean Genet em Chamas de Verão (1966), dirigido por Tony Richardson, com Jeanne Moreau no papel principal. Já o dramaturgo Harold Pinter estabeleceu uma significativa parceria com Joseph Losey na fase inglesa do diretor norte-americano, exilado em função do Macartismo, deixando-nos obras-primas como O Criado (1963).

A mostra também exibe três momentos distintos da vanguarda francesa em que o cinema e a literatura estiveram próximos. Um dos pilares do cinema experimental dos anos 1920, A Concha e o Clérigo, dirigido por Germaine Dulac, tem roteiro assinado pelo escritor, poeta e dramaturgo Antonin Artaud. No pós-guerra, Robert Bresson surgia como o principal nome do cinema francês tendo Jean Cocteau como dialoguista de seu segundo longa-metragem, As Damas do Bois de Boulogne (1945). Quando a França já vivia a ebulição da Nouvelle Vague, no início dos anos 1960, Alain Resnais aproximou-se de Alain Robbe-Grillet e suas propostas inovadoras do Nouveau Roman para criar O Ano Passado em Marienbad (1961), um dos divisores de água do cinema moderno.

Para completar a programação da mostra Escritores no Cinema, no dia 15 de novembro, sexta-feira, às 20h, acontece uma edição especial do Projeto Raros com a exibição do filme argentino Invasão (1969), de Hugo Santiago, com roteiro de Jorge Luis Borges a partir de história assinada por ele e Adolfo Bioy Casares.

A mostra Escritores no Cinema será apresentada ao longo de duas semanas e tem o apoio da distribuidora MPLC e da locadora E O Vídeo Levou.



GRADE DE PROGRAMAÇÃO
12 a 17 de novembro de 2013



A Concha e o Clérigo (La Coquille et Le Clergyman), de Germaine Dulac. França, 1927, 30 minutos.
Germaine Dulac esforçou-se para procurar na ação do roteiro de Antonin Artaud os pontos harmônicos, ligando-os entre si por ritmos estudados e compostos. Existem duas séries de ritmo. O ritmo da imagem e o ritmo das imagens, ou seja, um gesto deve ter um comprimento correspondente ao valor harmônico da expressão e depender do ritmo que precede ou prossegue: ritmo na imagem. Artaud detestou o resultado, mas o filme se tornou uma obra fundamental da vanguarda francesa dos anos 1920. Exibição em DVD.



A Mulher Satânica (The Devil is a Woman), de Josef von Sternberg. Estados Unidos, 1935, 75 minutos.
Josef von Sternberg encerra a parceria com Marlene Dietrich neste filme. Antônio Galván (César Romero), jovem militar com posto de oficial, conhece uma mulher misteriosa e atraente, Concha Perez (Dietrich), e cai enfeitiçado em seus braços sedutores. John Dos Passos escreveu o enredo, baseado no romance de Pierre Louys. Anos depois, Luis Buñuel, adaptou o argumento para o filme Esse Obscuro Objeto do Desejo. Exibição em DVD.



Jane Eyre (Jane Eyre), de Robert Stevenson. Estados Unidos, 1943, 97 minutos.
Adaptação da grande história romântica de Charlotte Brontë, com roteiro de Aldous Huxley, estrelada por Joan Fontaine e Orson Welles. Depois de uma infância como órfã, Jane Eyre (Fontaine) consegue um emprego como preceptora da filha do perturbado Edward Rochester (Welles), um aristocrata inglês. Com o passar do tempo Jane e seu patrão se apaixonam e decidem se casar. Mas o casamento deles é abalado com a chegada de um visitante. Exibição em DVD.


Uma Aventura na Martinica (To Have and Have Not), de Howard Hawks. Estados Unidos, 1944, 100 minutos.
Uma das lendárias parcerias entre William Faulkner e Howard Hawks, que aceitou o desafio proposto por Ernest Hemingway: “faça um grande filme baseado no meu pior livro”. Mar do Caribe, Martinica, 1940. Harry Morgan (Humphrey Bogart) é o capitão e dono de um pequeno barco. Membros da Resistência Francesa precisam do barco para resgatar discretamente um colaborador importante. Naquele mesmo dia, Marie Browning (Laren Bacall), uma batedora de carteiras, rouba o dinheiro de Johnson. Exibição em DVD.


As Damas do Bois de Boulogne (Les Dames du Bois de Boulogne), de Robert Bresson. França, 1945, 84 minutos.
Desejando vingar-se do abandono do amante Jean, Hélene (Maria Casarès), uma dama da alta sociedade, pede a uma dançarina de cabaret que o seduza. Só que a vingança acabará se transformando num escandaloso romance. Roteirizado pelo poeta Jean Cocteau e dirigido por Robert Bresson, As Damas do Bois de Boulogne é um filme de gestos, de olhares, em que a emoção aflora sob a pureza das imagens. Exibição em DVD.



Moby Dick (Moby Dick), de John Huston. Estados Unidos, 1956, 116 minutos.
Consumido por uma raiva completamente insana, Capitão Ahab tem apenas um objetivo na vida - vingar-se de Moby Dick, a grande baleia branca, que o feriu e desfigurou. O roteiro é assinado por Ray Bradbury. Exibição em DVD.





De Repente, no Último Verão (Suddenly, Last Summer), de Joseph L. Mankiewicz. Estados Unidos, 1959, 114 minutos.
John Cukrowicz (Montgomery Cliff), um neurocirurgião interessado em conseguir recursos para o hospital onde trabalha, conhece Violet Venable (Katherine Hepburn), uma rica senhora da aristocracia que deseja fazer uma lobotomia em Catherine Holly (Elizabeth Taylor), uma sobrinha supostamente acometida de crises de loucura. Escrito a quatro mãos, o roteiro deste clássico de Mankiewicz traz nomes como Tennessee Williams e Gore Vidal. Exibição em DVD.



Os Inocentes (The Innocents), de Jack Clayton. Estados Unidos/Inglaterra, 1961, 100 minutos.
Algo de estranho e sinistro estava acontecendo naquela casa, pensou Senhorita Giddens, contratada para cuidar de Flora e Miles, dois irmãos que ficaram órfãos em circunstâncias misteriosas. Uma das mais completas adaptações para o cinema da obra de Henry James, A Volta do Parafuso, estrelada por Deborah Kerr e roteirizada por Truman Capote. Exibição em DVD.




O Ano Passado em Marienbad (L'année Dernière à Marienbad), de Alain Resnais. França, 1961, 94 minutos.
Num hotel de luxo, um homem (Giorgio Albertazzi) tenta convencer uma mulher casada (Delphine Seyrig) a fugir com ele. Mas ela não consegue lembrar do caso que os dois supostamente tiveram no ano anterior em Marienbad. Parceira emblemática entre Alain Resnais e um dos inventores do Nouveau Roman, Alain Robbe-Grillet. Exibição em DVD.



O Criado (The Servant), de Joseph Losey. Inglaterra, 1963, 112 minutos.
Jovem rico acaba de comprar residência no centro de Londres e contrata um criado para lhe auxiliar. A relação dos dois é um pouco complicada e, aos poucos, a insubordinação vai tomando proporções catastróficas. Baseado em romance de Robin Maugham, o roteiro foi escrito por Harold Pinter. Exibição em DVD.


Chamas de Verão (Mademoiselle), de Tony Richardson. Inglaterra/França. 1966, 100 minutos.
Nesta adaptação da obra de Jean Genet, roteirizada por Marguerite Duras, Jeanne Moreau é uma respeitada professora em um vilarejo onde reside um viril italiano por quem ela nutre um forte desejo. Sexualmente reprimida, ela encontra prazer em vê-lo realizar atos heróicos em acidentes provocados por ela mesma e também passa a maltratar o filho dele. Exibição em DVD.






Barfly – Condenados pelo Vício (Barfly), de Barbet Schroeder. Estados Unidos, 1987, 100 minutos.
O cineasta Barbet Schroeder encomendou um roteiro a Charles Bukowski, que entregou a história de Henry Chinaski, um escritor alcoólatra que inicia um romance cheio de contradições com Wanda Wilcox, outra frequentadora assídua dos bares de Los Angeles. Exibição em DVD.







GRADE DE HORÁRIOS
12 a 17 de novembro de 2013

12 de novembro (terça-feira)
15:00 – A Mulher Satânica, de Josef von Sternberg
17:00 – Jane Eyre, de Robert Stevenson
20:00 – Sessão Plataforma (Leviathan, de Lucien Castaing-Taylor e Verena Paravel)

13 de novembro (quarta-feira)
15:00 – Uma Aventura na Martinica, de Howard Hawks
17:00 – Os Inocentes, de Jack Clayton
19:00 – De Repente, no Último Verão, de Joseph L. Mankiewicz

14 de novembro (quinta-feira)
15:00 – As Damas do Bois de Boulogne, de Robert Bresson
17:00 – O Criado, de Joseph Losey
19:00 – O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais

15 de novembro (sexta-feira)
15:00 – De Repente, no Último Verão, de Joseph L. Mankiewicz
17:00 – Moby Dick, de John Huston
19:00 – A Concha e o Clérigo, de Germaine Dulac
20:00 – Morango e Chocolate, de Tomás Gutiérrez Alea (sessão comentada com Senel Paz)

16 de novembro (sábado)
15:00 – As Damas do Bois de Boulogne, de Robert Bresson
17:00 – Sessão Plataforma (Leviathan, de Lucien Castaing-Taylor e Verena Paravel)
19:00 – Sessão Aurora (Um Burguês muito Pequeno, de Mario Monicelli)

17 de novembro (domingo)
15:00 – Chamas de Verão, de Tony Richardson
17:00 – O Criado, de Joseph Losey
19:00 – Barfly – Condenados pelo Vício, de Barbet Schroeder


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