Confira os textos:
Novidades na vitrina
Projeto traz ao circuito novos filmes nacionais
Quase cem longas são finalizados anualmente no Brasil. Grande parte deles não chega ao circuito, ou porque se enquadra na classificação “difícil demais” para o público, ou porque é feito num sistema de produção alternativo àquele privilegiado pelos distribuidores.
São os casos do cearense Estrada para Ythaca e do pernambucano Um Lugar ao Sol. Ambos deram início, há 10 dias, ao projeto Vitrine, voltado à exibição de alguns desses filmes em espaços determinados de algumas das principais capitais brasileiras – no caso de Porto Alegre, a Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro.
Cada longa seria exibido inicialmente apenas às 19h, mas Ythaca já ganhou dois horários extras – sinal da pertinência da programação, que, vale ressaltar, apesar de incluir produções excluídas das salas comerciais, chama a atenção para um novíssimo cinema nacional que cada vez mais vem se firmando no país.
Leia, ao lado, os comentários de Estrada para Ythaca e Um Lugar ao Sol e acompanhe a programação do projeto semanalmente no roteiro de cinema da Agenda Guia da Semana.
Projeto traz ao circuito novos filmes nacionais
Quase cem longas são finalizados anualmente no Brasil. Grande parte deles não chega ao circuito, ou porque se enquadra na classificação “difícil demais” para o público, ou porque é feito num sistema de produção alternativo àquele privilegiado pelos distribuidores.
São os casos do cearense Estrada para Ythaca e do pernambucano Um Lugar ao Sol. Ambos deram início, há 10 dias, ao projeto Vitrine, voltado à exibição de alguns desses filmes em espaços determinados de algumas das principais capitais brasileiras – no caso de Porto Alegre, a Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro.
Cada longa seria exibido inicialmente apenas às 19h, mas Ythaca já ganhou dois horários extras – sinal da pertinência da programação, que, vale ressaltar, apesar de incluir produções excluídas das salas comerciais, chama a atenção para um novíssimo cinema nacional que cada vez mais vem se firmando no país.
Leia, ao lado, os comentários de Estrada para Ythaca e Um Lugar ao Sol e acompanhe a programação do projeto semanalmente no roteiro de cinema da Agenda Guia da Semana.
Odisseia pós-industrial
Estrada para Ythaca é um marco do novíssimo cinema brasileiro, este que vem sendo chamado de pós-industrial. Não que seja uma obra-prima, mas o filme escrito, dirigido, produzido e interpretado pelos irmãos Luiz e Ricardo Pretti e pelos primos Guto Parente e Pedro Diógenes – do coletivo cearense Alumbramento – contém em si uma espécie de carta de princípios, ou intenções.
Trata-se de um road movie brejeiro que acompanha o quarteto numa viagem rumo a Ythaca. Homero e Kaváfis são referências eruditas e também espirituosas: eles estão de porre quando resolvem partir, em homenagem a um amigo que perderam e que por isso não pode compartilhar daquela celebração, mas o que importa, no fundo, não é o objetivo final, e sim o que a experiência de percorrer aquele caminho vai proporcionar.
Estrada para Ythaca se constrói sobre o inesperado, mas firma sua base dramatúrgica sobre citações. A melhor vem da fala de Glauber Rocha no longa de Godard Vento do Leste. Diante de uma bifurcação, que simboliza a escolha ou pelos filmes “de aventura”, ou pelo cinema de Terceiro Mundo, “perigoso, divino e maravilhoso”, como disse Caetano, os autores tomam a direção desta última.
Não é só por isso que Ythaca tem jeito de manifesto: celebração da amizade e da criação coletiva, o filme faz a noção de autoria se diluir à mesma medida que convida o espectador a compartilhar as angústias dos realizadores. Não seria o cinema uma arte menor porque envolve uma complexidade de produção que afasta o público do imaginário do artista? De seu jeito, Estrada para Ythaca prova que as coisas não precisam ser assim. Numa cinematografia que repete à exaustão um sistema de produção velho e nem sempre eficaz porque emula a indústria de Hollywood sem conseguir repeti-la, trata-se de algo bem pertinente.
daniel.feix@zerohora.com.br
DANIEL FEIX
Estrada para Ythaca é um marco do novíssimo cinema brasileiro, este que vem sendo chamado de pós-industrial. Não que seja uma obra-prima, mas o filme escrito, dirigido, produzido e interpretado pelos irmãos Luiz e Ricardo Pretti e pelos primos Guto Parente e Pedro Diógenes – do coletivo cearense Alumbramento – contém em si uma espécie de carta de princípios, ou intenções.
Trata-se de um road movie brejeiro que acompanha o quarteto numa viagem rumo a Ythaca. Homero e Kaváfis são referências eruditas e também espirituosas: eles estão de porre quando resolvem partir, em homenagem a um amigo que perderam e que por isso não pode compartilhar daquela celebração, mas o que importa, no fundo, não é o objetivo final, e sim o que a experiência de percorrer aquele caminho vai proporcionar.
Estrada para Ythaca se constrói sobre o inesperado, mas firma sua base dramatúrgica sobre citações. A melhor vem da fala de Glauber Rocha no longa de Godard Vento do Leste. Diante de uma bifurcação, que simboliza a escolha ou pelos filmes “de aventura”, ou pelo cinema de Terceiro Mundo, “perigoso, divino e maravilhoso”, como disse Caetano, os autores tomam a direção desta última.
Não é só por isso que Ythaca tem jeito de manifesto: celebração da amizade e da criação coletiva, o filme faz a noção de autoria se diluir à mesma medida que convida o espectador a compartilhar as angústias dos realizadores. Não seria o cinema uma arte menor porque envolve uma complexidade de produção que afasta o público do imaginário do artista? De seu jeito, Estrada para Ythaca prova que as coisas não precisam ser assim. Numa cinematografia que repete à exaustão um sistema de produção velho e nem sempre eficaz porque emula a indústria de Hollywood sem conseguir repeti-la, trata-se de algo bem pertinente.
daniel.feix@zerohora.com.br
DANIEL FEIX
A vida como ela deveria ser
Obras relevantes do documentário nacional radiografam o abismo social do país pelo ponto de vista dos que sofrem com a fome, a miséria, a violência e as carências extremas de saúde e educação. O raro é ver nessa abordagem recorrente o ponto de vista de quem literalmente enxerga o abismo do alto de uma cobertura com vista para o mar.
Em Um Lugar ao Sol, o diretor pernambucano Gabriel Mascaro mostra os que os muito ricos têm a dizer, também em temas que afligem os muito pobres. Ele procurou mais de cem milionários donos de coberturas catalogados em uma publicação. Apenas nove, moradores de Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, toparam se expor.
Aos moldes de um Edifício Master do jet set, Mascaro segue a cartilha de Eduardo Coutinho, o grande mestre do documentário nacional, e se põe a perguntar e a ouvir. Encontrou depoimentos que, se não rendem histórias espetaculares – uma vez que o objeto de interesse do diretor parece ser menos a intimidade dessas pessoas e mais a percepção que elas têm da vida ao redor, ou abaixo delas –, trazem uma peculiar diversidade: entre outros, um casal gay, uma francesa radicada no Brasil, um casal e o filho adolescente, um empresário, um jovem estudante, uma senhora que vive com seu filho adulto.
Encontra-se, como em qualquer classe social, gente boçal e pobre de espírito. Mas prevalece o tom respeitoso sobre aqueles que têm noção da condição privilegiada e que não veem razão para se sentir “culpados”. Entre eles o empresário que espana o “coitadismo” com que se costuma encarar a diferença de classes no Brasil de forma simples e direta: “Todo mundo merece um prato de comida, todo mudo merece dirigir um Jaguar”. Mascaro deixa que o espectador julgue o quanto essa afirmativa faz sentido ou é acintosa.
marcelo.perrone@zerohora.com.b r
MARCELO PERRONE
Obras relevantes do documentário nacional radiografam o abismo social do país pelo ponto de vista dos que sofrem com a fome, a miséria, a violência e as carências extremas de saúde e educação. O raro é ver nessa abordagem recorrente o ponto de vista de quem literalmente enxerga o abismo do alto de uma cobertura com vista para o mar.
Em Um Lugar ao Sol, o diretor pernambucano Gabriel Mascaro mostra os que os muito ricos têm a dizer, também em temas que afligem os muito pobres. Ele procurou mais de cem milionários donos de coberturas catalogados em uma publicação. Apenas nove, moradores de Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, toparam se expor.
Aos moldes de um Edifício Master do jet set, Mascaro segue a cartilha de Eduardo Coutinho, o grande mestre do documentário nacional, e se põe a perguntar e a ouvir. Encontrou depoimentos que, se não rendem histórias espetaculares – uma vez que o objeto de interesse do diretor parece ser menos a intimidade dessas pessoas e mais a percepção que elas têm da vida ao redor, ou abaixo delas –, trazem uma peculiar diversidade: entre outros, um casal gay, uma francesa radicada no Brasil, um casal e o filho adolescente, um empresário, um jovem estudante, uma senhora que vive com seu filho adulto.
Encontra-se, como em qualquer classe social, gente boçal e pobre de espírito. Mas prevalece o tom respeitoso sobre aqueles que têm noção da condição privilegiada e que não veem razão para se sentir “culpados”. Entre eles o empresário que espana o “coitadismo” com que se costuma encarar a diferença de classes no Brasil de forma simples e direta: “Todo mundo merece um prato de comida, todo mudo merece dirigir um Jaguar”. Mascaro deixa que o espectador julgue o quanto essa afirmativa faz sentido ou é acintosa.
marcelo.perrone@zerohora.com.b
MARCELO PERRONE
Como no meu serviço minha obrigação é ler todos os jornais do estado, acabei lendo essa matéria hoje. Que bom que eles divulgam o que esta rolando na sala de vocês, só achei uma pena eles terem publicado somente uma tirinha no dia que vocês exibiram o filme de Vincent Price.
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