Publicamos esta carta do cineasta Gustavo Spolidoro, dirigida a seus alunos e ex-alunos, mas que pode servir de estímulo a qualquer espectador interessado por um cinema autoral e de exceção.
Caros alunos e ex-alunos,
Esta carta tem por objetivo, mais uma vez, tentar aproximá-los de um cinema que É o de vocês, da realidade de vocês agora e mesmo depois da faculdade. Pois a realidade de vocês é a mesma que a nossa, a grande maioria dos realizadores de cinema no Brasil.
Este cinema que falo pode ser traduzido por este filme cearense, ESTRADA PARA YTHACA, que está em cartaz aqui em POA até a próxima quinta, dentro do projeto nacional SESSÃO VITRINE, parceria da VITRINE FILMES (comandada pela paulista Sílvia Cruz) e de mais de duas dezenas de realizadores de todo o país, jovens, entre 20 e 40 anos, unidos em turmas, em COLETIVOS, na tentativa de realizar um cinema viável, brasileiro, ousado, autoral e verdadeiro.
O projeto da Vitrine exibe simultaneamente em 7 capitais, 1 filme por semana, durante 5 semanas. As cidades são: São Paulo (Espaço Unibanco), Recife (Fundação Joaquim Nabuco), Porto Alegre (PF Gastal), Curitiba (Cinemateca de Curitiba), Salvador (Circuito Sala de Arte), Vitória (Cine Metrópolis) e Rio de Janeiro (Cine Jóia). É uma proposta nova, que visa exibir filmes que, às vezes, nem passaram por leis, concursos, ancines etc, pois foram feitos de forma cooperativada, por coletivos, amigos, desdobramento de outros editais ou por universidades. São filmes que dialogam com uma idéia de contemporaneidade do cinema, que frequentam festivais internacionais, que ganham prêmios e fazem sucesso lá fora, mas que aqui ainda carecem de um maior conhecimento e valorização.
Os cinco primeiros filmes (de mais de 15 que serão exibidos) são ESTRADA PARA YTHACA, UM LUGAR AO SOL, CHANTAL AKERMAN, DE CÁ, ESTRADA REAL DA CACHAÇA e MORRO DO CÉU.
Mas os que chegaram até aqui nesta carta, vão entender os meus motivos para endereçá-la aos meus alunos e ex-alunos: quando damos aula, acabamos por passar aquele todo que é e faz o cinema, o todo que leva ao que chamo de EXCESSOS ACADÊMICOS, que faz com que muitas vezes queiramos entrar pela porta dos fundos (que aliás já está cheia). A impressão de um cinema rico, repleto de oportunidades, com dezenas de funções na equipe, cachês compatíveis com a publicidade e cheio de glamour. Mas não é esta a realidade.
Aqui no RS ainda temos a mentalidade do "vamos abrir uma produtora e resolver o nosso lado". Enquanto isso, no resto do país está cada vez mais disseminada a ideia de COLETIVO. Esses coletivos unem pessoas de diversas áreas artísticas, unem produtoras, entidades, empresas, universidades, a partir de diversas propostas (caixinha mensal, um filme por mês, interdisciplinaridade, oficinas...) mas com o objetivo de REALIZAR ALGO. E eles têm conseguido.
ESTRADA PARA YTHACA é um dos primeiros e principais exemplos disso. Um filme do coletivo ALUMBRAMENTO, um dos mais ativos, bem sucedidos e alegres (pois uma das coisas boas dos coletivos é juntar quem realmente tá a fim do negócio!). O filme é dirigido, escrito e protagonizado pelos próprios integrantes do coletivo (parte deles) e fala justamente deles, da geração deles, dos anseios deles, da ausência de um grande amigo deles e, por fim, está falando de e para todos nós.
ESTRADA PARA YTHACA deveria ser exibido curricularmente, ou no primeiro dia de aula, para mudar qualquer preceito básico de quem entra numa faculdade de cinema, ou então no último, para dizer: ok, vocês aprenderam tudo, agora se libertem e sigam o seu caminho.
Vão lá, até quinta-feira, na Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro e em mais 6 capitais.
Maiores informações em www.vitrinefilmes.com.br
Abraços, Gustavo
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