terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Raros exibidos em 2009

A NOITE DOS ARREPIOS - de Fred Dekker - 1986
Exibido em 04/12/2009

Quando lançado nos cinemas, em 1986, A Noite dos Arrepios (Night of the Creeps), de Fred Dekker, foi um fracasso de bilheteria, passando despercebido pela crítica e pelo grande público. Porém, com o passar dos anos esta descompromissada mistura de humor negro, horror e ficção científica se transformou num objeto de culto entre os fãs do gênero fantástico. O filme nunca foi lançado oficialmente nos cinemas ou locadoras do país, mas sua exibição na TV no final dos anos 1980 gerou uma legião de admiradores brasileiros, que sempre aguardavam ansiosos por alguma reprise nas “sessões da madrugada”.

Em tom de auto-paródia, A Noite dos Arrepios é uma sangrenta e divertida homenagem aos filmes B de horror, com direito a alienígenas, mortos-vivos e estranhas criaturas gosmentas. Na trama, os estudantes da Universidade Corman são infectados por parasitas espaciais que se alimentam do cérebro dos hospedeiros transformando-os em zumbis. Uma inusitada dupla de heróis, os nerds Chris Romero (Jason Lively) e JC Hooper (Steven Marshall), auxiliada pelo detetive linha dura Cameron (o impagável Tom Atkins), irão combater as criaturas e tentar evitar a disseminação dos mortos-vivos. Dekker brinca com os clichês do gênero em citações inspiradas que vão da ficção científica dos anos 50 (Plan 9 From Outer Space) aos filmes de George Romero e David Cronenberg.

Em 1987, Fred Dekker realizou Deu a Louca nos Monstros (The Monster Squad), uma espécie de Os Goonies com elementos fantásticos, que também foi elevado ao status de cult movie, mas após o retumbante fracasso de Robocop 3, seu filme seguinte, o nome de Dekker foi colocado no limbo da indústria de Hollywood, e desde então seus trabalhos se limitaram a esporádicas participações como roteirista de séries televisivas.

A Noite dos Arrepios (Night of the Creeps), de Fred Dekker. EUA, 1986, 85 minutos

SATANICO PANDEMONIUM - de Gilberto Martinez Solares - 1975
Exibido em 20/11/2009

Especialista em cinema de gênero, Gilberto Martínez Solares (1906-1997) foi um dos mais prolixos realizadores do cinema mexicano, com mais de 150 filmes em seu currículo. Em 60 anos dedicados à sétima arte, trafegou entre os mais variados gêneros, do western ao horror, passando pelo drama e pelos populares filmes do lutador El Santo.

Satanico Pandemonium faz parte do ciclo mexicano de um subgênero conhecido como nunexploitation. O enredo destas produções, passadas essencialmente em conventos, confrontava o sagrado e o profano, mesclando de forma sensacionalista temas como religião, sexo, violência e satanismo.

A trama de Satanico Pandemonium segue os conceitos cristalizados pelo gênero. Irmã Maria (a bela Cecilia Pezet) tem sua fé colocada à prova quando começa a ser assediada por um misterioso pastor chamado Luzbel (Enrique Rocha). As investidas do pastor despertam em Maria sentimentos paradoxais, que a fazem mergulhar num abismo de demência, horror e depravação.

Na época de seu lançamento o filme causou furor nos setores mais conservadores da sociedade mexicana, conhecida pelo seu arraigado catolicismo. Em homenagem ao filme, os diretores Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, fãs confessos da obra de Solares, batizaram a personagem de Salma Hayek em Um Drink no Inferno de Satanico Pandemonium.

Satanico Pandemonium, de Gilberto Martínez Solares. México, 1975, 87 minutos. Classificação indicativa: 18 anos.


O MONGE SINISTRO - de Harald Reinl - 1965
Exibido em 13/11/2009

O projeto Raros da Sala P. F. Gastal (Usina do Gasômetro – 3º andar) ganha edição especial nesta sexta-feira, 13 de novembro, às 19h, inserida na programação do Projeto Berlim – evento iniciado na última terça-feira, que celebra os 20 anos da queda do Muro de Berlim – com a exibição da produção alemã O Monge Sinistro, realizada por Harald Reinl em 1965.

O Monge Sinistro é um dos mais perfeitos exemplares do gênero “Krimi”, popular série de filmes de suspense produzidos na Alemanha durante a década de 60, geralmente inspirados nos romances do escritor Edgar Wallace. Embora fossem filmados em Berlim, no auge da Guerra Fria (com a cidade ainda dividida pelo muro), as tramas dos “krimis” se passam em Londres.

O Monge Sinistro narra a história de um assassino que se fantasia de monge e sai chicoteando as pessoas até a morte pelas ruas sombrias da capital inglesa. A fim de evitar novas mortes, a Scotland Yard mobiliza seus agentes na caça do sádico serial killer.

No elenco do filme, Karin Dor (a “Bond girl” de Com 007 Só Se Vive Duas Vezes e estrela de Hitchcock em Topázio), Harald Leipinitz, Siegfried Lowitz e Edie Arent (de Alphaville).

O Monge Sinistro será exibido numa cópia em DVD, com legendas em espanhol. A sessão será comentada pelo jornalista Thomaz Albornoz.
A entrada é franca.

O Monge Sinistro (Der Unheimliche Mönch/The Sinister Monk), de Harald Reinl. Alemanha, 1965. Com Karin Dor, Harald Leipinitz, Siegfried Lowitz e Edie Arent. Duração: 87 minutos. Preto e branco.


GO, GO, SECOND TIME VIRGIN - de Kôji Wakamatsu - 1969
Exibido em 30/10/2009

Go, Go Second Time Virgin é um dos títulos mais representativos do cinema proposto por Kôji Wakamatsu, cineasta de carreira prolífica, conhecido por assinar produções do gênero pinku eiga ou pink films, filmes eróticos japoneses de baixo orçamento. O apuro estético e a utilização do sexo como subterfúgio para lançar uma crítica feroz à rígida sociedade do Japão são os elementos que diferenciam a obra de Wakamatsu dos demais filmes do gênero. A visão anárquica do diretor transforma seus filmes em experiências radicais e incômodas, nas quais tabus e perversões sexuais dialogam com a política e a poesia.

A trama de Go, Go Second Time Virgin tem início no terraço de um edifício onde uma garota é violentada por uma gangue. Sem intervir, um rapaz sorrateiramente observa a cena em silêncio. Na manhã seguinte ambos perambulam pelos telhados do prédio, conversam sobre o acontecido e divagam sobre a vida e a morte. Pouco a pouco, o desespero toma conta da situação, que se torna ainda mais caótica com o retorno da gangue ao local do crime.

Em 1965, outro filme de Wakamatsu, Segredos por Trás da Parede (Kabe No Naka No Himegoto), foi selecionado para o Festival de Berlim, gerando desconforto entre o governo e muitos cineastas japoneses, que numa atitude conservadora se posicionaram contra o fato de um pinku eiga, uma produção erótica, representar o Japão num festival internacional tão prestigiado quanto Berlim. Em uma entrevista recente, Wakamatsu declarou: “No começo, o erotismo era uma decisão estratégica que me permitia fazer os filmes que queria. Mas logo compreendi que podia usá-lo como uma ferramenta importante para desenvolver meu ponto de vista, e o que tinha sido somente uma obrigação, tornou-se útil para mim”.

Tendo dirigido mais de 100 filmes ao longo de sua carreira, aos 73 anos Kôji Wakamatsu continua produzindo ativamente. Em 2008 retornou ao Festival de Berlim com o drama United Red Army (Jitsuroku Rengô Sekigun: Asama Sansô e No Michi), de onde saiu com ótimas críticas e dois prêmios paralelos.
Go Go Second Time Virgin (Yuke Yuke Nidome No Shojo). Direção de Kôji Wakamatsu. Com Michio Akiyama e Mimi Kozakura. Japão, 1969, 66 minutos. Preto e branco.


GLEN OU GLENDA - de Ed Wood - 1953
Exibido em 16/10/2009

O cultuado “filme gay” de Ed Wood, considerado o pior cineasta de todos os tempos. O próprio Wood interpreta o personagem principal, o indeciso Glen, que não tem coragem de contar à noiva que gosta de se vestir de mulher. Ainda no elenco, Bela Lugosi, o eterno Drácula de Tod Browning. Um filme precursor, realizado na conservadora América dos anos 50, que apesar das suas fragilidades conquista novos fãs a cada exibição.

Glen ou Glenda (Glen or Glenda), de Ed Wood (EUA, 1953, 68 minutos)


NÃO SE TORTURA UM PATINHO - de Lucio Fulci - 1972
Exibido em 9/10/2009

Lançado em 1972, o clássico do cinema de horror italiano, o cultuado Don´t Torture a Duckling, ou Non si Sevizia un Paperino (Não se Tortura um Patinho), de Lucio Fulci ficou célebre por seu título, certamente um dos mais bizarros da história do cinema. No Brasil, teve distribuição restrita, como O Segredo do Bosque dos Sonhos.
A trama de Don´t Torture a Duckling se passa em um vilarejo siciliano que fica à beira da histeria quando um maníaco inicia uma série de cruéis assassinatos envolvendo um grupo de crianças. Instaura-se um estado de paranóia generalizada, onde todos são suspeitos. Andrea (Tomas Milian), um jornalista obstinado, tenta desvendar a identidade do assassino, enquanto a bela Patrizia (Barbara Bouchet) luta para inocentar-se das suspeitas que recaem sobre ela, e Maciara (Florinda Bolkan), a bruxa da cidade, sofre as consequencias por suas atividades, consideradas demoníacas pela população. Enquanto isso, o medo gera uma nova onda de violência, atingindo vidas inocentes.
Em seu lançamento, Don´t Torture a Duckling causou polêmica pela sua mistura explosiva de sexo, violência e religiosidade. A partir deste filme o mítico e versátil diretor italiano Lucio Fulci (1927-1996) exacerbou o seu gosto pelo mórbido e pelo grotesco, que nos anos seguintes o definiria como um dos mestres do cinema fantástico italiano. O subtexto crítico à Igreja Católica não passou em branco pelas autoridades religiosas, rendendo a Fulci a excomunhão, e o nome do filme foi colocado em uma espécie de lista negra da Igreja, que impôs cortes e prejudicou a sua distribuição nos cinemas europeus. A atriz brasileira Florinda Bolkan (que hoje renega a sua participação em vários filmes de horror italianos) rouba a cena no papel da bruxa Maciara, protagonizando uma das cenas mais violentas e impactantes do filme. Ao lado de Florinda, brilham a diva do cinema grego Irene Papas e a linda Barbara Bouchet.

Dont Torture a Duckling (Non si Sevizia un Paperino). Direção de Lucio Fulci (Itália, 1972, 102 minutos). Com Florinda Bolkan, Tomas Milian, Barbara Bouchet e Irene Papas.


ASSALTO AO TREM BLINDADO - de Enzo Castellari - 1978
Exibido em 04/09/2009
O filme de Castellari, após alguns anos de ostracismo, voltou a receber atenção ao ser refilmado por Quentin Tarantino como Bastardos Inglórios, atual sucesso de bilheteria nos cinemas americanos (com estreia prevista no Brasil para o final de setembro).
Enzo G. Castellari (1942) é um diretor que tem uma longa carreira dedicada ao cinema de gênero, assinando produções de baixo orçamento que, apesar da escassez de recursos, conquistaram a admiração de parte da crítica, como o drama de guerra Esquadrão das Águias (1969) e o western Keoma (1976).

Na França, em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, um grupo de soldados norte-americanos condenados à morte pelos mais variados tipos de crimes consegue se libertar, e resolve fugir para a Suíça, neutra. A caminho de lá eles são confundidos com uma unidade secreta aliada, e se engajam em uma missão suicida atrás das linhas alemãs, envolvendo roubo e sabotagem de um trem.

Assalto ao Trem Blindado (Quel Maledetto Treno Blindato), de Enzo G. Castellari. Itália, 1978. Com Bo Svenson, Peter Hooten, Fred Williamson, Ian Bannen e Michael Constantin. Colorido. Duração: 99 minutos.

FASTER, PUSSYCAT! KILL! KILL! - de Russ Meyer - 1965
Exibido em 19/06/2009

Filme mais popular de Meyer, o papa do gênero sexplotation, Faster, Pussycat! Kill! Kill! descreve as aventuras de três sedutoras e furiosas gogo girls que andam pelo deserto americano com seus carros velozes, causando a discórdia por onde passam. Um sucesso de bilheteria nos drive ins americanos nos anos 60, o filme é idolatrado por diretores como John Waters (“É o melhor filme já feito”, disse Waters) e Quentin Tarantino, que o homenageou em Death Proof (ainda inédito no Brasil) e pretende refilmá-lo, segundo informações do IMDB.
A sessão de Faster, Pussycat! Kill! Kill! no Raros está incluída na mostra Microfonia, que aconteceu na Sala P. F. Gastal.
Faster, Pussycat! Kill! Kill!, de Russ Meyer (EUA, 1965, 83 minutos, legendas em português)



O MONSTRO DE DUAS CABEÇAS - de Lee Frost - 1972
Exibido em 08/05/2009

Um dos subprodutos do movimento Blaxploitation, O Monstro de Duas Cabeças conta a bizarra história de um velho milionário e racista (vivido por Ray Milland) que, devido a uma grave doença, tem sua cabeça transplantada para o corpo de um negro (Rosey Grier, primo da estrela negra Pam Grier, de Jackie Brown). O detalhe é que o negro está vivo e ambas as cabeças precisam conviver com o mesmo corpo. A partir daí, o que se vê na tela é um desfile de situações absurdas, que entrou para a história do cinema como um dos mais divertidos libelos contra o racismo.

O protagonista Ray Milland (1905-1986) foi um ator bastante requisitado em Hollywood nas décadas de 40 e 50 (ganhou o Oscar, a Palma de Ouro em Cannes e o Globo de Ouro por sua atuação em Farrapo Humano, de Billy Wilder). A partir dos anos 60, Milland começou a fazer participações freqüentes em seriados de TV e produções do cinema B, como o cartaz do Raros desta sexta-feira.
O Monstro de Duas Cabeças será exibido numa cópia em DVD, com diálogos e legendas em inglês. A sessão será comentada pelo jornalista Zeca Azevedo, especialista em cinema Blaxploitation. A entrada é franca.
O Monstro de Duas Cabeças (The Thing with Two Heads). Estados Unidos, 1972. Direção de Lee Frost. Com Ray Milland, Rosey Grier e Don Marshall. Colorido. Duração: 93 minutos.

BLACULA - de William Crain - 1972
Exibido em 17/04/2009

Blacula, de William Crain, é uma produção de 1972 sobre vampiro negro que aterroriza as ruas de Los Angeles. Blacula integra a programação do projeto Black, inaugurado pela Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura na última terça-feira, que está apresentando diversos filmes que ilustram a contribuição da cultura negra para o cinema.
A trama do filme de William Crain adapta para o contexto americano do início da década de 70 algumas das principais situações do clássico romance Drácula, de Bram Stoker. Em 1780, ao visitar o Conde Drácula na Transilvânia, príncipe africano é atacado pelo vampiro e seu corpo permanece trancafiado em um caixão nos porões do castelo. Duzentos anos depois, após a venda do espólio de Drácula, o caixão vai parar em um depósito em Los Angeles. Logo os habitantes da cidade passam a sofrer os ataques de um vampiro negro. Na época de seu lançamento, o sucesso de Blacula foi tão grande que o filme logo ganharia uma continuação, Scream, Blacula, Scream, de 1973, com Pam Grier no elenco. Hoje, as duas produções, embora não consigam mais provocar sustos nos espectadores, adquiriram o status de filmes de culto.
Blacula será exibido numa cópia em DVD, com diálogos em inglês e legendas em espanhol. A sessão será comentada pelo jornalista Zeca Azevedo, especialista em cultura black. A entrada é franca.
Blacula, de William Crain (EUA, 1972, 92 minutos).
Com William Marshall, Denise Nicholas e Vonetta McGee.Colorido.

CÉLINE E JULIE VÃO DE BARCO - de Jacques Rivette - 1974
Exibido em 03/04/2009
Uma das obra-primas de Jacques Rivette, Céline et Julie Vão de Barco conta as aventuras fantásticas que nascem de amizade acidental entre umabibliotecária e uma excêntrica ilusionista. Embriagadas pelos jogos quecriam juntas, ambas vão entrar numa realidade paralela e tentarsolucionar um crime acontecido vários anos antes numa mansãomisteriosa.Embora desconhecido do público brasileiro - como de resto boa parte daobra de Rivette - o filme é considerado um dos mais importantes dadécada de 70, tanto pela sua narrativa inovadora (o crítico americanoDavid Thompson o chamou de "a experiência narrativa mais radical desdeCidadão Kane"), como pela abordagem feminista bem-humorada(característica que certamente atraiu Pedro Almodóvar, que tem o filmena sua lista de preferidos, e Susan Seidelman, que o usou como base doseu Procura-se Susan Desesperadamente, em 1985). Céline et Julie Vão deBarco, que costura referências literárias fantásticas tão dísparesquanto Alice no País das Maravilhas, de Lewis Caroll, e The OtherHouse, de Henry James, acaba se revelando no final um grande elogio aoato de se contar - e ver - uma história.
Céline e Julie Vão de Barco (Céline et Julie Vont en Bateau, França, 1974, 192 minutos) - Exibição em DVD, original em francês, com legendas em inglês.

Nenhum comentário :

Postar um comentário