terça-feira, 16 de junho de 2009

Clássico de Russ Meyer no raros


O projeto Raros da Sala P. F. Gastal tem sessão especial na próxima sexta-feira, dia 19 de junho, às 19h, quando apresenta o clássico underground Faster, Pussycat! Kill! Kill! (1965), de Russ Meyer. Filme mais popular de Meyer, o papa do gênero sexplotation, Faster, Pussycat! Kill! Kill! descreve as aventuras de três sedutoras e furiosas gogo girls que andam pelo deserto americano com seus carros velozes, causando a discórdia por onde passam. Um sucesso de bilheteria nos drive ins americanos nos anos 60, o filme é idolatrado por diretores como John Waters (“É o melhor filme já feito”, disse Waters) e Quentin Tarantino, que o homenageou em Death Proof (ainda inédito no Brasil) e pretende refilmá-lo, segundo informações do IMDB.

A sessão de Faster, Pussycat! Kill! Kill! no Raros está incluída na mostra Microfonia, que acontece até domingo na Sala P. F. Gastal. O filme será comentado pelo jornalista Thomaz Albornoz. A entrada é franca.

Em seguida, às 21h, a Sala P. F. Gastal sedia a sessão de lançamento do VI Fantaspoa, com a exibição de Pig Hunt, de James Isaac, produção inédita de 2008, premiada no Fant-Asia Film Festival. Um autêntico Grindhouse para a noite gelada de sexta-feira.

Faster, Pussycat! Kill! Kill!, de Russ Meyer (EUA, 1965, 83 minutos, legendas em português)

Abaixo, texto de Rodrigo Carreiro sobre Faster, Pussycat! Kill! Kill!,

O grande mistério do mais famoso dos filmes cults dirigidos por Russ Meyer está no título. A frase Faster, Pussycat! Kill! Kill! (EUA, 1965) não é dita por nenhum personagem durante os curtos 83 minutos de projeção. Meyer só esclareceu esse mistério muitos anos depois do lançamento original, dizendo que havia batizado a obra sem prestar muita atenção ao enredo. Seu objetivo punha um olho gordo no aspecto comercial da produção. Meyer queria inserir, em uma única expressão, os três elementos com mais potencial para chamar a atenção da platéia masculina: velocidade (“Faster”), sexo (“Pussycat”) e morte (“Kill”). Simples assim. O fato é que o cineasta teve êxito na tarefa, já que o título é parte essencial da aura cult que o filme angariou, principalmente junto à macharia, nos anos seguintes ao lançamento.

Curiosamente, porém, o sucesso não foi instantâneo, em parte devido à enxurrada de produtos audiovisuais que frequentavam o mercado das telonas e carregavam a assinatura de Russ Meyer. Faster, Pussycat! Kill! Kill! foi a terceira obra dirigida por ele lançada nos Estados Unidos, apenas no ano de 1965. Nos 24 meses anteriores, o diretor já havia desovado outros cinco filmes. Todos eram muito parecidos, com enredos que eram meras desculpas para encher as telas com imagens típicas da iconografia do período: mulheres peitudas de camiseta branca, botas e couro negro, violência com humor e todo tipo de exagero kitsch à moda norte-americana. Era como se a famosa gangue de motoqueiros Hell’s Angels, que barbarizavam a Califórnia (EUA) naquela época, filmasse alguns momentos de um dia típico na vida de um integrante do grupo e editasse o material com a cuca cheia de ácido lisérgico.

A história não faz nenhum sentido. Três dançarinas de strip-tease (Tura Satana, Haji e Lori Williams) testam a velocidade de seu bólido no deserto californiano e se envolvem em uma confusão com um rapaz e sua namorada (Susan Bernard). Após uma corrida de carros, elas matam o rapaz e prendem a garota na mala do automóvel, para que ela não conte a ninguém sobre o crime. Durante a fuga, as moças param num posto de gasolina e interagem com um velhote paralítico (Stuart Lancaster) e com seu filho bonitão, parrudo e imbecil (Dennis Busch). Acabam descobrindo que eles guardam uma fortuna em algum lugar do casarão caindo aos pedaços onde vivem, e decidem dar um golpe nos dois, tentando descobrir onde está a grana para roubá-la.

Faster, Pussycat! Kill! Kill! é um daqueles longas-metragens que encaixam à perfeição na definição de filme cult contemporâneo: é tão ruim que acaba virando uma experiência interessante de assistir. As interpretações são bisonhas, com as garotas esbanjando caras, bocas, peitos e golpes de caratê (!). Os diálogos, recheados de expressões de duplo sentido e risadinhas maliciosas, às vezes não fazem nenhum sentido, mas divertem. A produção barata fica evidente quando se assiste às cenas com atenção. Observe as cenas de corrida de carro, por exemplo. Russ Meyer abusa de planos fechados nos motoristas, com câmera baixa, e o espectador logo percebe que os atores estão parados enquanto a produção balançava os automóveis com eles dentro, porque a paisagem nunca se move por trás deles. A continuidade também é absolutamente inexistente – muitas vezes a iluminação varia dentro de uma mesma cena, com tomadas escuras se alternando com outras claras.

Por outro lado, o longa-metragem aposta na transgressão social e guarda um charme selvagem e um saudável ar de desafio à censura, que comia solta no cinema da época. Há energia real, vibração sexual intensa, e o filme captura com bastante precisão o tipo de vida da subcultura jovem que tomava conta dos Estados Unidos na época das filmagens – era a época hippie, em que imperavam o amor livre, as motocicletas, os bares de strip-tease e as viagens de carona pelas estradas poeirentas do oeste. Além disso, as locações e o sistema de punição simbólica aplicado aos personagens foram extremamente influentes para o subgênero slasher de filmes como O Massacre da Serra Elétrica (1974) e a série Sexta-Feira 13. Não é à toa que a obra de Russ Meyer tem tantos admiradores famosos na cultura pop contemporânea, a exemplo de Quentin Tarantino.

O longa nunca saiu no Brasil em DVD. Nos EUA é possível achá-lo em versão simples, sem extras, com enquadramento original preservado (1.33:1) e áudio em dois canais (Dolby Digital 2.0).

Rodrigo Carreiro




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