sexta-feira, 24 de maio de 2013

OBRA EMBLEMÁTICA DO CINEMA MARGINAL NA SESSÃO AURORA

A Sessão Aurora apresenta no sábado, 25 de maio, às 18h, na Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar), o longa-metragem Crônica de um Industrial (1978), sexto filme do diretor brasileiro Luiz Rosemberg Filho, autor de obras emblemáticas do Cinema Marginal como Jardim de Espumas (1971) e Assuntina das Amérikas (1976). Na ocasião, também será exibido, a pedido do próprio cineasta, o curta-metragem O Discurso das Imagens (2010), também de sua autoria. Após a sessão, haverá um debate com os editores da revista Aurora. A entrada é franca.


Crônica de um Industrial surgiu na ressaca do tropicalismo, em meio a infiltrações aguerridas do Cinema Novo, Marginal e de poesia, em um contexto industrial complicadíssimo – época das grandes greves sindicais paulistas. Dono de um notável manejo de discurso e uma capacidade de subverter a linguagem poética e os monólogos, Luiz Rosemberg Filho constrói uma obra que sabe aliar sintaxe e criatividade estética com meditações sobre o social e o histórico, utilizando todos esses elementos para chegar a um máximo clímax político de forte influência brechtiana.
O filme traz a história de Gimenez, um empresário de sucesso que vive no imaginário país de São Vicente. Na juventude, ele fora militante de esquerda e um apaixonado nato. Sua trajetória, contudo, o levou a centrar em seu próprio individualismo, poder e crescimento nos negócios. Forçado a passar o controle de sua empresa para uma multinacional, Gimenez passa por um brusco momento de crise, autocrítica, esvaziamento existencial, enquanto tece reflexões sobre a doutrina da burguesia e sua própria vida. Crônica de um Industrial foi selecionado para representar o Brasil no Festival de Cannes de 1978, mas a censura imposta pela ditadura militar na época impediu que o filme fosse exibido dentro e fora do país. A ideia básica dos censores era a de que a obra poderia chegar até mesmo à Palma de Ouro, o que chamaria ainda mais atenção para um filme de forte temática política. Na ocasião, um dos censores chegou a afirmar: “É com dor no coração que vamos interditar esse filme”. Nas palavras do próprio cineasta: “O nosso olhar sobre o país era amargo e visceral. Estávamos mais próximos de Graciliano Ramos que de Jorge Amado, filmando a nossa versão política da mistura de Angústia com Macbeth. A ditadura o proibiu, mas ele ficou sendo o documento da nossa modesta resistência ao horror da truculência militarista”.



Crônica de um Industrial. Brasil, 1978, 87 minutos. Direção: Luiz Rosemberg Filho. Com Renato Coutinho, Adriana Figueiredo e Wilson Grey. O filme será exibido em DVD. 

2 comentários :