Crônica de um Industrial surgiu na ressaca do tropicalismo, em meio a
infiltrações aguerridas do Cinema Novo, Marginal e de poesia, em um contexto
industrial complicadíssimo – época das grandes greves sindicais paulistas. Dono
de um notável manejo de discurso e uma capacidade de subverter a linguagem
poética e os monólogos, Luiz Rosemberg Filho constrói uma obra que sabe aliar
sintaxe e criatividade estética com meditações sobre o social e o histórico,
utilizando todos esses elementos para chegar a um máximo clímax político de forte
influência brechtiana.
O filme traz a história de Gimenez, um empresário de sucesso
que vive no imaginário país de São Vicente. Na juventude, ele fora militante de
esquerda e um apaixonado nato. Sua trajetória, contudo, o levou a centrar em
seu próprio individualismo, poder e crescimento nos negócios. Forçado a passar
o controle de sua empresa para uma multinacional, Gimenez passa por um brusco
momento de crise, autocrítica, esvaziamento existencial, enquanto tece
reflexões sobre a doutrina da burguesia e sua própria vida. Crônica de um Industrial foi selecionado para representar o
Brasil no Festival de Cannes de 1978, mas a censura imposta pela ditadura
militar na época impediu que o filme fosse exibido dentro e fora do país. A
ideia básica dos censores era a de que a obra poderia chegar até mesmo à Palma
de Ouro, o que chamaria ainda mais atenção para um filme de forte temática
política. Na ocasião, um dos censores chegou a afirmar: “É com dor no coração
que vamos interditar esse filme”. Nas palavras do próprio cineasta: “O nosso
olhar sobre o país era amargo e visceral. Estávamos mais próximos de Graciliano
Ramos que de Jorge Amado, filmando a nossa versão política da mistura de Angústia com Macbeth.
A ditadura o proibiu, mas ele ficou sendo o documento da nossa modesta
resistência ao horror da truculência militarista”.
Crônica de
um Industrial. Brasil,
1978, 87 minutos. Direção: Luiz Rosemberg Filho. Com Renato Coutinho, Adriana
Figueiredo e Wilson Grey. O filme será exibido em DVD.
Estarei presente
ResponderExcluirQue bom Marcelo. Realmente grande filme.
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