Nesta sexta-feira, dia 14 de março,
às 20h, o Projeto Raros exibe na Sala P.F.
Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar) o cultuado filme
japonês Pastoral: Morrer no Campo, surrealismo autobiográfico do cineasta
Shuji Terayama. A exibição faz parte da mostra Respeitável
Público! com uma seleção de filmes sobre o universo circense. A entrada é
franca.
Situado numa atmosfera
onírica do Japão rural, a narrativa inicia com um garoto adolescente que tenta
fugir da sufocante proteção de sua mãe e depois se transporta para o desejo de
um cineasta que busca enfrentar seu passado. Existe também um esforço para
conciliar o indivíduo com o coletivo, o Japão antigo e o novo, através de um
desfile de imagens emblemáticas que imprimem uma poesia
carnavalesca nas memórias de Terayama.
Pastoral: Morrer no
Campo foi concebido com grande
influência do universo do circo. Enquanto o protagonista descobre seus dramas,
nas cercanias da cidade uma trupe de circo itinerante se prepara para uma
apresentação. As cenas circenses ganham a companhia de cores fortes e efeitos
visuais que as destacam na narrativa. Para Terayama, esses personagens, com
suasliberdade sexual, confiando uma total ruptura em relação à tradição
ancestral japonesa, representam a chegada da modernidade no país.
Um dos realizadores mais
iconoclastas do Japão, conhecido como “o alquimista das palavras”, Shuji
Terayama construiu uma filmografia ímpar a partir dos anos 1960, quando o
cinema independente japonês ganhou força através da distribuição da Art Theatre
Guild, produtora dedicada ao cinema transgressor, responsável pelo lançamento de
obras mais radicais dos expoentes da Nouvelle Vague Japonesa, como Nagisa Oshima
e Shohei Imamura, e novidades underground como Toshio Matsumoto. Para além do
cinema, Terayama também trabalhou com o teatro, escreveu romances, dedicou-se a
poesia e admirou as corridas de cavalo até sua morte precoce, em 1983, aos 47
anos. “A minha profissão – dizia o cineasta – é ser Shuji Terayama”.
Com a palavra, Terayama:
Em Pastoral: Morrer no
Campo, quis decompor a minha memória para me libertar da minha infância. Não
penso que consegui, pois o cinema também impõe regras. Talvez ainda não
conseguisse traduzir a minha infância, mas consegui filmá-la diferentemente.
Queria passar do interior para o exterior - para depois reentrar no interior. O
poema é, na maioria das vezes, um monólogo. Mas o cinema arrisca-se a sê-lo
igualmente. Claro que existe onirismo no filme. Surrealismo, não sei. Mas está
marcado por Lautréamont e "Les Chants de Maldoror". Da mesma forma, fui
influenciado por Marcel Duchamp e pelo compositor John Cage... O nosso olho não
vê senão a superfície. Quiçá, com uma faca sou tentado a abrir o olho para ver o
outro mundo que não se pode ver.
Pastoral: Morrer no Campo
(Den-en ni shisu)
Dirigido por Shuji Terayama
(Japão, 1974, 104 minutos).
Com:
Kantarô Suga, Hiroyuki Takano, Sen Hara e Yoshio Harada
Exibição em DVD com legendas em
português
Entrada franca.
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