domingo, 9 de março de 2014

PROJETO RAROS APRESENTA CLÁSSICO SURREALISTA JAPONÊS DOS ANOS 1970




Nesta sexta-feira, dia 14 de março, às 20h, o Projeto Raros exibe na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar) o cultuado filme japonês Pastoral: Morrer no Campo, surrealismo autobiográfico do cineasta Shuji Terayama. A exibição faz parte da mostra Respeitável Público! com uma seleção de filmes sobre o universo circense. A entrada é franca.  

Situado numa atmosfera onírica do Japão rural, a narrativa inicia com um garoto adolescente que tenta fugir da sufocante proteção de sua mãe e depois se transporta para o desejo de um cineasta que busca enfrentar seu passado. Existe também um esforço para conciliar o indivíduo com o coletivo, o Japão antigo e o novo, através de um desfile de imagens emblemáticas que imprimem uma poesia carnavalesca nas memórias de Terayama.

Pastoral: Morrer no Campo foi concebido com grande influência do universo do circo. Enquanto o protagonista descobre seus dramas, nas cercanias da cidade uma trupe de circo itinerante se prepara para uma apresentação. As cenas circenses ganham a companhia de cores fortes e efeitos visuais que as destacam na narrativa. Para Terayama, esses personagens, com suasliberdade sexual, confiando uma total ruptura em relação à tradição ancestral japonesa, representam a chegada da modernidade no país.

Um dos realizadores mais iconoclastas do Japão, conhecido como “o alquimista das palavras”, Shuji Terayama construiu uma filmografia ímpar a partir dos anos 1960, quando o cinema independente japonês ganhou força através da distribuição da Art Theatre Guild, produtora dedicada ao cinema transgressor, responsável pelo lançamento de obras mais radicais dos expoentes da Nouvelle Vague Japonesa, como Nagisa Oshima e Shohei Imamura, e novidades underground como Toshio Matsumoto. Para além do cinema, Terayama também trabalhou com o teatro, escreveu romances, dedicou-se a poesia e admirou as corridas de cavalo até sua morte precoce, em 1983, aos 47 anos. “A minha profissão – dizia o cineasta – é ser Shuji Terayama”.

Com a palavra, Terayama:


Em Pastoral: Morrer no Campo, quis decompor a minha memória para me libertar da minha infância. Não penso que consegui, pois o cinema também impõe regras. Talvez ainda não conseguisse traduzir a minha infância, mas consegui filmá-la diferentemente. Queria passar do interior para o exterior - para depois reentrar no interior. O poema é, na maioria das vezes, um monólogo. Mas o cinema arrisca-se a sê-lo igualmente. Claro que existe onirismo no filme. Surrealismo, não sei. Mas está marcado por Lautréamont e "Les Chants de Maldoror". Da mesma forma, fui influenciado por Marcel Duchamp e pelo compositor John Cage... O nosso olho não vê senão a superfície. Quiçá, com uma faca sou tentado a abrir o olho para ver o outro mundo que não se pode ver.



Pastoral: Morrer no Campo
(Den-en ni shisu)
Dirigido por Shuji Terayama
(Japão, 1974, 104 minutos).
Com: Kantarô Suga, Hiroyuki Takano, Sen Hara e Yoshio Harada
Exibição em DVD com legendas em português
Entrada franca.

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