A partir
de terça-feira, 18 de agosto, a Sala P.
F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar) exibe em parceria com o Goethe-Institut uma retrospectiva com
dez filmes de Werner Schroeter, um
dos nomes mais radicais do cinema moderno alemão. Com cópias em blu-ray, a
mostra tem entrada franca.
WERNER SCHROETER
Embora
o cinema de Werner Schroeter tenha nascido no espírito do Novo Cinema Alemão e
tenha feito parte deste movimento desde o início, seu estilo o diferencia dos
outros cineastas do período. Schroeter criou uma estética própria que é
marcante em todos os seus filmes, sejam de ficção ou documentários, algo que o
deixou numa posição marginal dentro do Novo Cinema Alemão. Amante de óperas,
Schroeter usa imagens extremamente estilizadas e iconográficas, com uma
linguagem opulenta e expressionista. Suas obras obedecem rigorosamente a um
ideal artístico e são tão inovadoras quanto provocadoras.
Os
primeiros filmes de Schroeter, Argila
e Eika Katappa, ainda no final dos
anos 1960, expandem as fronteiras do cinema narrativo tradicional a partir de
telas múltiplas e colagens experimentais. Na década de 1970, realiza alguns de
suas obras mais célebres, transitando por estilos e territórios distintos. Entre
elas, A Morte de Maria Malibran, uma
homenagem singular a grandes divas do canto, da personagem-título a Maria
Callas e Janis Joplin, o surrealismo californiano de Willow Springs, o romantismo brega de influência mexicana em Anjo Negro e a Cuba imaginária de Os Flocos de Ouro.
“Schroeter
é o Cocteau do nosso tempo. O cinema de Werner Schroeter é a mais pura magia,
ele cria um novo mundo, um novo tempo, cheio de artifício e beleza. Visões de
um reino imaginário onde tudo é permitido. Magic Werner, Magic Cinema.”
Libération 4/9/2008
“Você
faz, ou você não faz” disse Werner Schroeter numa entrevista para o jornal
alemão Berliner Zeitung, resumindo assim, em poucas palavras, a ideia básica do
chamado Novo Cinema Alemão. Foi com esse espírito que começaram os grandes
mestres do Novo Cinema Alemão: Herzog, Fassbinder, Wenders, Schlöndorff - e
Werner Schroeter. Naquela época houve uma ruptura radical com a forma com que
até então se entendia e se fazia cinema: o diretor tornava-se o autor dos seus
filmes, o objetivo não era mais o sucesso comercial, mas a relevância da
temática política e social. Começava um movimento que pretendia distanciar os
filmes da perspectiva de investimento e retorno financeiro e garantir o máximo
de liberdade ao cineasta. Os filmes não deveriam mais apenas entreter o
público, mas provocar um debate sobre questões sociais e políticas.
Especialmente nos primeiros anos, foram realizados muitos filmes com orçamentos
baixíssimos, muitas vezes movidos somente pelo idealismo e pela convicção dos
cineastas e de suas equipes: nascia o Novo Cinema Alemão.
Werner
Schroeter nasceu em 1945, na Alemanha. Começou a fazer cinema de forma
autodidata no final dos anos 60, com filmes experimentais em super 8 e 16mm. O
seu primeiro longa-metragem, “Eika Katappa”, de 1969, já despertou o interesse
da crítica e do público. A partir dos anos 1970, paralelamente às suas
produções para o cinema, Schroeter passou a encenar espetáculos de ópera e de
teatro, tanto na Alemanha quanto em palcos internacionais.
FILMES
ARGILA
1969,
33 min, ficção, 18 anos
Essa
obra experimental de Werner Schroeter faz parte de seus primeiros trabalhos e
foi criada em forma de projeção dupla. O filme utilizado como base exibe um
homem e três mulheres, duas interagem diretamente com ele, a terceira comenta
os acontecimentos. O filme é projetado uma vez em cópia muda em preto e branco
e uma colorida e sonorizada na outra metade da tela. A cópia em preto e branco
começa um minuto mais cedo, com esse adiantamento, a cor e o som tornam-se uma
lembrança complementar das imagens já vistas.
EIKA KATAPPA
1969,
143 min, ficção, 18 anos
Uma
colagem experimental de Werner Schroeter de imagens e sons assíncronos, sem
vínculo direto e explícito. O vínculo é criado inicialmente na cabeça do
público. Aqui se forma um contexto entre lendas antigas, opereta, cinema, show,
Beethoven, Maria Callas, Verdi e Caterina Valente. O filme foi exibido em 1970,
na Quinzaine des realisateurs do Festival de Cannes.
PILOTO DE BOMBARDEIO (Der Bomberpilot)
1970,
65 min, ficção, 18 anos
Este
é o primeiro trabalho de Werner Schroeter para a televisão alemã. O filme narra
a carreira de três mulheres como cantoras e dançarinas, desde o tempo do
nazismo até o milagre econômico nos anos 1950 e 60.
A MORTE DE MARIA MALIBRAN (Der Tod der Maria Malibran)
1972,
104 min, ficção, 18 anos
A
meio-soprano Maria Malibran, cujas voz e beleza conquistaram os corações de
Rossini e Bellini, faleceu em 1836 com 26 anos em decorrência de uma queda do
cavalo. O filme não pretende ser biográfico, mas destina-se ao seu mito e seu
misticismo, apresentando Magdalena Montezuma e Candy Darling nos papéis
principais. O filme retrata os pontos fortes e fracos das divas, independente
do século; de Maria Callas a Janis Joplin, as Malibrans modernas, a quem Werner
Schroeter dedica esse filme.
WILLOW
SPRINGS
1973, 78 min, ficção
Três
mulheres levam uma vida recatada no deserto californiano e sentem-se ameaçadas
pela chegada de um homem estranho. O filme conta a história de um humor surreal
como um sonho, caracterizado por identidades femininas descontinuadas.
ANJO NEGRO (Der schwarze Engel)
1974,
71 min, ficção
O
filme começa com imagens documentais e comentários em voice-over sobre a Cidade
do México, conduzindo o espectador por uma viagem mística de duas turistas, uma
alemã e uma secretária da embaixada americana, que buscam o sentido de vida e
realização pessoal nas ruínas dos Deuses Incas. O próprio Schroeter descreve a
sua obra como ‘piada nostálgica, uma farsa barata’ - romantismo brega e
colonialista.
OS FLOCOS DE OURO (Goldflocken)
1976,
160 min
O
filme se passa em Cuba (inventada), na França, na região do Ruhr e na Baviera,
é falado em vários idiomas e dividido em quatro atos. Schroeter reflete sobre
destino e moral e a atriz Bulle Ogier comenta esse filme mais tarde: ‘As
sequências em preto e branco são a coisa mais bela que já fiz no cinema. Werner
conseguiu captar a fragilidade, a transparência delicada dentro de mim. Assim
como com Andréa Ferréol, que nunca esteve mais sexy e mais renoir em um filme
de cinema’.
DIA DOS IDIOTAS (Tag der Idioten)
1981,
106 min
O
que se passa na cabeça da bela Carol Schneider? Ela não se encaixa na vida
normal. Tenta escapar com todos os recursos: grita, chora, xinga e implora pela
atenção de seu apático amante Alexander. "Matem-me!" ela grite para o
nada. O seu comportamento a leva à internação em um manicômio. Aqui ela quer
ficar para sempre, apesar de continuar isolada. Finalmente, ela recebe alta,
está curada. Os muros do manicômio desabam e Carol é atropelada por um carro. –
Reflexão com aspecto surreal sobre a fuga do manicômio.
CONCÍLIO DE AMOR (Liebeskonzil)
1982,
90 min
Com
raiva sobre as atividades depravadas das pessoas na época da renascença, Deus
convoca um concílio no céu e se consulta com Maria, Jesus e o Diabo sobre a
possibilidade de castigar as pessoas e ao mesmo tempo resgatar suas almas, para
que ainda tenham súditos no reino do céu. Finalmente o Diabo é incumbido de
encontrar esse castigo. Ele gera uma filha com Salomé que vai à corte imoral do
Papa Borgia Alexander VI para contagiar as pessoas com sífilis. – Filmagem da
peça de teatro de Oskar Panizza (1853-1921) em uma encenação do Teatro Belli em
Roma. A ação principal do filme é o processo contra Panizza, que em 1895 é
condenado a um ano de prisão por blasfêmia em "Concílio de amor", e
mais tarde acaba no manicômio.
DE L’ARGENTINE
1986,
94 min, documentário
Documentário
sobre os pavores e a tortura da ditadura militar argentina. Werner Schroeter
compara as informações oficiais publicadas pelo regime militar aos depoimentos
de vítimas, dissidentes e as famílias dos “desaparecidos”. A partir da intimidade com os entrevistados,
através de sua mímica e suas palavras, o filme transmite o pavor da
violência.
GRADE DE HORÁRIOS
18 a 30 de agosto de 2015
18 de agosto (terça-feira)
17:00
– Os Flocos de Ouro (1976)
20:00
– A Morte de Maria Malibran (1972)
19 de agosto (quarta-feira)
17:00
– Dia dos Idiotas (1981)
19:30
– Eika Katappa (1969)
20 de agosto (quinta-feira)
17:00 – Concílio de Amor (1982)
19:30 – Willow Springs (1973)
21 de agosto (sexta-feira)
17:00
– De l'Argentine (1985)
19:30
– Anjo Negro (1974)
22 de agosto (sábado)
15:00
– Argila (1969) + Piloto de Bombardeio (1970)
17:00
– Willow Springs (1973)
19:00
– Os Flocos de Ouro (1976)
23 de agosto (domingo)
15:00
– Dia dos Idiotas (1981)
17:00
– Concílio de Amor (1982)
19:00
– De l'Argentine (1985)
25 de agosto (terça-feira)
17:00 – Anjo Negro (1974)
19:00 – Willow Springs (1969)
20:30
– Sessão Plataforma
26 de agosto (quarta-feira)
17:00
– A Morte de Maria Malibran (1972)
19:00
– Os Flocos de Ouro (1976)
27 de agosto (quinta-feira)
17:00
– Concílio de Amor (1982)
19:00
– Dia dos Idiotas (1981)
28 de agosto (sexta-feira)
17:00
– Argila (1969) + Piloto de Bombardeio (1970)
19:00
– Eika Katappa (1969)
29 de agosto (sábado)
15:00
– Anjo Negro (1974)
17:00
– A Morte de Maria Malibran (1972)
19:00
– Sessão Plataforma (reprise)
30 de agosto (domingo)
15:00
– De l'Argentine (1985)
17:00
– Argila (1969) + Piloto de Bombardeio (1970)
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